31 de agosto de 2016

O futuro pertence a ela!

continuação de O futuro pertence a quem?


Nesta questão do futuro dos filhos acho que a maioria dos pais (e mães) sempre oscila entre duas possibilidades:
Resultado de imagem para happiness balanceTem um lado nosso que quer que os filhos aprendam suas próprias lições, façam suas próprias escolhas e desfrutem de seus acertos (e aprendam com seus erros). Queremos mostrar que confiamos nos filhos, que apoiamos suas decisões. Sabemos que é assim que se constrói o caráter de uma pessoa, que é assim que as "personas" são construídas.
Mas temos um outro lado! Não queremos ver nossos filhos e filhas sofrerem! Queremos diminuir as dores de crescimento de nossos filhos, temos medo que eles sofram, temos medo que deem muitas cabeçadas e se percam numa certa infelicidade. Queremos dividir com eles a nossa experiência, o nosso aprendizado, para que eles possam usar o passe "fast track" onde já ficamos na fila! Para que as coisas sejam mais fáceis para eles, e, porque não dizer, para que eles sejam mais bem felizes e bem sucedidos em suas escolhas que os pais. Todo pai sonha com isso, que seu filho seja mais e melhor que ele mesmo! A não ser que você seja CRONOS

Se deixarmos a balança pesar  de um lado, delegando aos nossos filhos o controle absoluto e sem interferências de suas decisões estaremos agindo certo, mas se exagerarmos na dosagem podemos estar "delargando" ao invés de delegando, pois todo mundo, em todos os momentos, se beneficia de ter apoio na tomada de decisões. Quando transferimos responsabilidade sobre algo também devemos estar preparados para dar o apoio necessário e para ajudar a pessoa a completar seus objetivos se for necessário! Mas tem pais que dizem "não quer seguir meus conselhos? então  vire-se!"
Já, se a balança pesar muito de outro lado, podemos estar criando seres humanos que terão muitas dificuldades de tomarem suas próprias decisões e que serão - muito provavelmente - muito inseguros. Pessoas que não terão nunca certeza dos seus objetivos e do que fazer para alcançá-los, pessoas muito frágeis para lidarem com insucessos e com as voltas que a vida dá!

Resultado de imagem para rocks balance gifTalvez a alternativa para esta "doce" dicotomia esteja no meio termo, a resposta parece sempre estar no meio termo não é mesmo? Nem "delargar", nem decidir tudo pelos filhos...
Minha filha está tão aflita com as decisões acadêmicas e profissionais que tem que tomar que até levantou a hipótese de "trancar a faculdade e ir trabalhar em qualquer coisa", "ir viver um tempo numa comunidade alternativa em Paraty" ou até mesmo "ir trabalhar numa plantação de morangos na Austrália por dois anos, conseguindo então a cidadania australiana, como meu amigo (nota do pai: amigo de família podre de rica) está fazendo"
Alternativas que eu acho válidas como experiência de vida - tudo que fazemos na vida é experiência não é? - mas que nesse momento me parecem ser a maneira errada para lidar com o dilema que se apresenta... ao invés de um projeto de vida, parecem muito mais uma fuga do stress de ter que resolver.

Eu penso que filho é para sempre! Não tem essa de "cresceu agora se vira pois não é problema meu"! Eu não vou deixar de ter responsabilidade e querer ajudar nunca! Nunca! Ou, como diz a querida Edith Modesto: "filho é bom e dura muito!"

Conversei muito com ela e deixei bem claro que qualquer decisão dela vai ter meu apoio, e faço isso de coração, pois não tenho nenhum tipo de sonho de ter uma filha "doutora" ou "famosa" ou "rica". Minha "tarefa" é ajudar ela a ser uma mulher plena, bem consigo mesma, centrada e que possa de alguma forma, melhora um pouquinho do mundo a nossa volta...
...a minha (quase) única regra, é que ela não desista de concluir um curso de graduação neste momento, seja qual for, em que faculdade for, mesmo que comece um novo agora!  De agronomia a turismo, de engenharia a culinária, qualquer faculdade!
Resultado de imagem para happiness balanceEsta minha "regra" é porque para mim a EDUCAÇÃO é um valor indiscutível! - E eu não estou em campanha eleitoral!  Eu acredito piamente que a experiência da faculdade é importante nesta idade, mesmo que não seja algo que você siga uma profissão para sempre (eu já dei pelo menos duas "guinadas" na minha vida e ela sabe bem porque já contei), fazer a faculdade mais velho lhe tira a possibilidade de vivências que considero importantes na formação da pessoa, o ambiente universitário, de discussão inclusive política e social - que imagino não terá na plantação de morangos ou como caixa numa loja - são imprescindíveis a meu ver para a formação da pessoa, coisas que a família, o trabalho, não podem oferecer. Desistir da faculdade neste momento, sem um plano B coerente não é um alternativa que vai contar com meu apoio. 
Em casa mesmo, com o Mr Jay retomando a faculdade anos depois, vemos como o processo é difícil...

No meio tempo ela terá todo meu apoio para  passar férias na comunidade de Paraty, para trabalhar em algo que lhe permita fazer a faculdade ou até mesmo viajar para colher morangos(!!!).  E inclusive ela poderá passar pela experiência, no futuro, de fazer a faculdade mais velha, como eu estou fazendo nos últimos dois anos! 

E você? O que acha da minha "regra"? Acha que estou sendo "careta" e tolhendo a liberdade dela? Ou acha que, como pai, eu tenho que, neste momento ainda, traçar alguns limites e exigir algumas coisas?



24 de agosto de 2016

O futuro pertence a quem?

Ser pai é uma aventura incrível! Eu já disse isso muitas vezes não é? Ser pai te faz crescer, te faz querer ser uma pessoa melhor, um ser humano mais pleno, e também exercita muito sua empatia, sua capacidade de se colocar no lugar do outro.
Mas é claro que ser pai, solteiro, te faz passar por muitos momentos tensos, preocupantes, situações em que você não sabe realmente o que fazer, qual o melhor caminho a ser tomado! Estas situações variam em função da idade, da maturidade do seu filho ou filha, mas mais cedo ou mais tarde vão aparecer!
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Aqui em casa estamos passando por um momento destes. Minha filha está bastante perdida em relação a seu futuro, em relação a carreira, a ganhar dinheiro... 
Um pequeno resumo: Desde os 15/16 ela tem dúvidas sobre que faculdade fazer, pensou em medicina, depois biologia, pensou em fazer direito, fez teste vocacional, pensou em Adm, em Economia... ela sempre pensando em algo que pudesse lhe garantir uma boa renda, recursos no futuro para cuidar bem de seus filhos (ela fala muito isso) Em 2015, após um ano de cursinho, ela entrou na FEA/USP no curso de Contabilidade.
Mas ela já odiou o curso logo de cara! Não conseguiu se animar,  ir nas aulas com a frequência desejada. Realmente isso era o esperado, ela não tem muito "amor" pela área de exatas e o curso de contabilidade, pelo que sei, é bastante "árido"... Ela ainda fez aulas nos cursos de Economia e Adm da FEA, para onde poderia pedir transferência mas ela também não se interessou... principalmente com o tipo de perspectiva de trabalho.
Ela chegou ao final de 2015 muito fragilizada, depressiva, sem saber que rumos tomar, porque "perdeu" o ano todo neste movimento de tentar se entusiasmar com "razonetes", o que é bem difícil... Tão perdida que nem "lembrou" de se inscrever na FUVEST (nem adianta eu falar em outras faculdades, ela "se recusa" a pagar faculdade).
Conversamos bastante, e como eu sei que pai e mãe nem sempre dão os melhores conselhos para ouvidos de filhos, eu sugeri que ela fizesse terapia, que ela tivesse mais espaço de conversar... o que ela aceitou.
Resultado de imagem para futuroNeste primeiro semestre de 2016 ela se matriculou em algumas disciplinas de Ciências Sociais na FFLCH, e parece que ai sim encontrou um curso mais interessante para sua alma ( e eu concordo que é bem mais "a cara" dela). Neste segundo semestre decidiu trancar a contabilidade e começou a fazer cursinho, para prestar vestibular novamente no fim do ano. Mas esta semana, que começam as inscrições na FUVEST, ela entrou em nova crise, sem ter certeza mesmo que ela quer fazer sociologia, se sociologia lhe daria chance de um bom emprego, se ela teria dinheiro no futuro para se bancar e cuidar de seus filhos sendo "cientista social"...

E ai? Quem passou por essas crises? Como saíram delas? O que devo fazer como pai?


17 de agosto de 2016

O "empoderamento" ou " A Bicha Abusada"

Eu nunca fui muito de me esconder... de esconder o fato de ser homossexual... eu tenho consciência que muitas vezes eu preferi ser "discreto"...mas agora eu tenho percebido que eu estou ficando meio "abusado"! E acho que isso tem muito a ver com meu casamento...
Eu falo que sou casado com um homem com a maior naturalidade e ás vezes até forço a situação para poder falar... eu me divirto falando "o meu marido"... e adoro ver a reação das pessoas...

É bem divertido a pessoa olhar para a aliança no dedo da mão esquerda e perguntar... a sua esposa trabalha no que? e vc corrigir... eu não tenho esposa, tenho marido! E isso também acontece com Mr. Jay

Ontem estávamos na delegacia - infelizmente roubaram o carro dele,  acharam umas duas horas depois todo detonado mas ai tivemos que fazer boletim de ocorrência - estávamos preenchendo as papeladas necessárias...quando ele saiu e foi para outra sala...  o policial me perguntou... "vocês são parentes?" (nossa! como ele deveria estar curioso!) 
E eu respondi com a maior naturalidade: "nós somos casados"
Eu percebi que ele ficou meio sem graça com a resposta natural minha... talvez o mais comum ainda seja o pessoal dizer "ele é meu amigo"... ele até me pediu meu documento para anotar que eu era o acompanhante... mas acho que ele queria mesmo era conferir os sobrenomes...
Ai a escrevente, preenchendo os documentos, perguntou se ele não tinha RG de São Paulo, e ele disse: "eu casei agora e meu rg novo não ficou pronto ainda" e ela "ah estou vendo a aliança brilhante de vocês, quando estiverem casados há 17 anos como eu ela vai ficar assim riscada como a minha" (mostrando a aliança) e ela ainda fez piada, dizendo que a minha estava menos brilhante porque provavelmente era eu que lavava mais louça em casa... #sqn!

Acho que este empoderamento veio, sem dúvida, do fato de eu ter um documento, oficial, dizendo que sou casado com um cara... documento que não pode ser contestado por nenhuma religião, que tem que ser aceito em todos os lugares... afinal de contas eu nunca tive uma carteirinha dizendo que eu sou gay, apesar de ser "gay de carteirinha". 

Acho até que seria interessante isso, ter um documento que fala que vc é gay... ai a gente não precisaria ficar falando, vc entrega o documento, ou preenche o cadastro, e ninguém fica querendo te empurrar a amiga solteirona ou perguntando "como chama sua namorada"...e nem fazendo piadas com  bucetas na sua frente... se bem que se a gente fosse ficar preenchendo tudo "que a gente é" ia ficar um cadastro gigantesco... porque eu sou muito mais apenas do que ser Homem, Homossexual e Pai... melhor ficar só nome e sobrenome né?
Mas sem dúvida ter um documento oficial que de certa forma mostrasse que não queremos esconder isso podia ajudar É por isso que os transgêneros lutam tanto para terem documentos que combinem com as identidades de gênero que assumem! Eu imagino a humilhação de uma mulher, linda, bem vestida, ter que viajar com o documento de João Pedro...
Acho que a atitude de alguns amigos, que o pessoal categoriza como "afeminados" ou "pintosas" já funciona um pouco como este RGgay, logo de cara você já sabe, eles deixam tudo bem claro de antemão... Mas a verdade é que em muitos ambientes ainda é perigoso parecer ou se declarar gay, pois muitos ainda estão sendo mortos só por isso!

E vc? Quer ter carteirinha? Ou como está tá bom?





4 de agosto de 2016

e o TAL não foi

Em diversas ocasiões eu escrevi sobre meu pai, e do nosso relacionamento difícil, nulo. Eu sei que isso não é um "privilégio" meu, muitos amigos já compartilharam os seus problemas e distanciamentos de seus pais. Eu também já entendi, de certa forma, que o fato de eu ser homossexual não é o único cerne da questão, quando conversei com minha mãe...e eu achei que já tinha aprendido a lidar com isso

Mas, no meu casamento, mais uma vez eu cometi o erro de esperar dele uma atitude diferente, uma atitude melhor, uma atitude de pai, e mais uma vez eu cai do cavalo - melhor seria dizer que cai do castelinho de cartas que criei nas nuvens.

Meu pai não foi ao meu casamento...

Eu fiz o protocolo direitinho, entreguei o convite em mãos algumas semanas antes, até disse que ele quizesse levar alguém (uma das piriguetes que babam o ovo dele porque ele tem grana, e que ele chama de amigas)  era só me avisar. Depois, uma semana antes, liguei para perguntar se ele ia e se queria levar alguém, ao que ele respondeu - "não consigo resolver isso agora". Também conversei com minha irmã e pedi que ela falasse com ele, explicasse que o pai do Mr. Jay iria.

Um dia antes do casamento eu fiz um almoço em casa, para a família do Mr. Jay, e minha irmã também veio. Numa determinada hora ela me puxou num canto e me disse que meu pai não iria, que disse que "preferia não ir". E ela tentando melhorar a situação ainda tentou me convencer que "eu nem fazia questão mesmo" e "que ele era de outra época e eu devia entender" e que "seria até melhor assim para não criar nenhum constrangimento".

Na hora eu concordei, e fiz um ar de "melhor assim", mas no fundo eu imaginava ainda que ele apareceria de última hora, para causar um certo frisson e chamar atenção, como é típico de uma personalidade mitômona como a do meu pai. OLHA AI! Eu tenho vontade me dar um tapa na cara por ter tido este pensamento, esperança boba, pois é óbvio que ele não iria... mania de sempre esperar o melhor das pessoas...

Pois ele não foi... é claro!

Confesso uma parte minha achou bom ele não ir, ele é como uma "nuvem negra" sempre que está presente (a não ser que esteja com os amigos que babam o ovo dele). Ele provavelmente ia constranger um monte de gente. Mas tem uma parte minha que dizia que eu merecia, que seria justo para mim ele estar lá, eu queria passar por uma sensação como o novo comercial do Jetta.

Mas obviamente a vida não é um comercial de automóvel, e nem de margarina..
Ele não foi.
Ele não foi e também não deu presente... e olha que eu tinha uma lista de presente "em dinheiro" como é comum hoje em dia... pois esperar um presente pessoal seria "tooooo much".
E o calhorda ainda me passou uma mensagem no dia "desculpe surgiram compromissos não poderei ir"

Os meus sentimentos no dia, e nos dias seguintes, foram mistos. Na hora da festa me senti humilhado  pois muita gente perguntou "seu pai não veio?" E cada vez que me perguntavam eu lembrava do assunto e dava uma resposta diferente. Me senti humilhado por saber que muita gente estava comentando o assunto mesmo sem ter falado comigo. Foi uma fofoquinha que pairou no ar... que bosta!
Me senti indigno pois o covarde nunca teve nenhuma conversa direta comigo, nunca, nunca, aliás sobre nenhuma assunto, nem sobre carreira, nem sobre sexo, nem sobre futebol, nem sobre nada... nem mesmo quando arranjou manobras para tentar me tirar da sociedade da empresa teve coragem de falar diretamente comigo sobre o assunto, mando o advogado entregar um documento para eu assinar... e quando eu ameacei reagir voltou atrás rapidamente...

Como eu avisei o Mr Jay antes da festa que ele não iria,  eu consegui sublimar maravilhosamente os sentimentos no dia.... Mesmo sendo  muito complicado vc se sentir o "cocô da mosca do cavalo assistente do bandido do western italiano nível B".  O sentimento era de ter sido agredido, pois ao fazer isso, ao não me prestigiar, ele estava, diretamente, me agredindo, agredindo Mr, Jay, minha filha, minha mãe... tentando tirar o brilho da minha união, lascar a minha dignidade e me humilhar perante outros - e eu não duvido que ele tenha pensado algo assim...

No segundo dia depois do casamento foi quando eu verdadeiramente "registrei o baque", não tanto pelo fato, que eu já tinha deglutido, mas por não saber o que fazer com aquela "informação".  Passei o dia choroso, e com raiva de deixar um idiota como meu pai turvar toda a felicidade que eu tinha passado e ainda sentia naquele momento... eu me comiserava por me sentir assim, por me deixar atingir...mas sem saber o que fazer.
Meu marido foi maravilhoso, esteve ao meu lado e me ajudou como pode, deixando que eu falasse e chorasse...
Mas eu acabei ligando para meu terapeuta e pedindo um HELP... dois dias antes da minha lua de mel eu me preocupava de não conseguir elaborar o que fazer com tudo que estava sentindo e estragar minha viagem.. Conversamos bastante pois ele me conhece há muitos anos... e também estava lá no casamento, e também percebeu a ausência do infeliz...
A principio  parece bem simples olhando de fora, ele é um bosta que não me ama, nunca amou, eu tenho que parar de me enganar e aceitar a realidade, parar de achar que as coisas são de um jeito que elas não são, tratar ele com a distancia que ele merece, porém sem ser idiota de abrir mão do que é meu de direito, tratar ele como se trata um chefe, um governador, um prefeito, alguém que vc sabe que tem autoridade mas que não respeita.. e pronto...

O que é bem mais fácil falar do que fazer!

E ai meus amigos, tem um jeito mais fácil de lidar com esta situação?