3 de janeiro de 2006

Disfarçando...

A estória pode parecer meio boba, mas serve para ilustrar o que o medo de não sermos aceitos e a necessidade de nos "adequarmos" acaba nos forçando a fazer.
Na semana passada eu estava cortando o cabelo e o assunto entre os cabelereiros e assistentes era - Para onde você vai no Reveillon? "Eu vou para tal lugar, bla bla bla, ", dizia um, "eu vou na festa tal bla bla bla" dizia outra, e ai um rapaz novinho, um dos assitentes, com cabelo descolorido e vários piercings numa das orelhas disse:
Bom, aqui cabe um parenteses...mesmo correndo o risco de ser preconceituoso, eu acho que não seria exagerado dizer que a grande maioria dos homens que trabalham em salões de beleza é gay não é? Se o seu radar funciona minimamente, estes são lugares em que ele apitam demais não é?
Então como dizia, o jovem assistente, com chance beirando os 95% de ser gay, disse:
"Eu vou para o Rio (sonho de consumo de 10 entre 10 gays masculinos no reveillon) com um amigo" só isto...
...deu para ler nas entrelinhas? entendeu que ele na realidade queria dizer "GENTE! eu vou ferver de monte no Rio, vou me jogar com meu bofe e vou beijar muuuuito!"
Mas o medo de não ser aceito, o medo de se expor, e talvez até o medo de ser discriminado no trabalho, acaba por tolher o cara...imagina se ele vai poder mostrar as fotos dele abraçado num monte de fortões em Ipanema...ou contar tudo o que realmente aconteceu...
Esta talvez seja a parte mais perversa desta não aceitação e deste preconceito, nos tolhemos, nos controlamos, somos seres etereos, somente com amigos, com amigas, sem namorados, sem casos, sem beijos roubados, sem amantes...
Isto desgasta tanto...manter esta imagem.... e talvez seja por isto que muitas vezes os gays acabam caindo facilmente nas armadilhas da baixa auto estima, com comportamentos de risco, risco fisico e emocional diga-se de passagem!
Até quando jovens terão que inventar estorias sobre suas vidas para se sentirem mais aceitos e menos diferentes?

2 comentários:

  1. Sim, já enjoei de dizer a todos que sempre estou com a minha amiga Paula. Nossa, isso é um saco. Mas infelizmente é a alternativa, às vezes acho que prefiro dizer que ela é minha amiga, do que ter que ver a cara de bosta das pessoas ao ouvirem "minha namorada".
    Isso ñ deveria ter que ser assim.

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  2. Anônimo3:14 PM

    Acho seu comentário válido, embora ache também que ele partiu de uma observação que pode não ter absolutamente nada a ver... O garoto pode não ser gay, só meio fresquinho, e pode ser que o companheiro seja só amigo, enfim. Conheço muitos garotos assim em Salvador. Um abraço,
    Sandro

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