Uma das questões que se apresentou, quando começamos a pensar em casar, era a minha sogra!
Os pais do Mr. Jay, que moram no interior de Minas, nunca lidaram bem - traduza por ACEITARAM - o fato dele ser homossexual. Ele assumiu-se ainda adolescente, e os pais tiveram reações bem extremadas, desde tentarem curá-lo através da religião e de psicólogos, até isolarem e expulsarem ele de casa. Um roteiro que é seguido - de forma até compreensível (mas não aceitável) - por muitos pais e mães de jovens gays quando estes se revelam ou são descobertos.
Quando conheci o Mr. Jay, três anos atrás, eles estavam num estágio de convivência em que o fato dele ser gay, e tudo relacionado a isso, era um assunto para não ser falado. Eles vinham beeeem eventualmente visitar ele em São Paulo e ele ia para a casa deles em Minas passar uns dias a cada ano, nas festas de fim de ano, mas havia este acordo implícito: "don´t ask, don´t tell".
Eu sequer conhecia os pais dele. Até mesmo quando fui para Minas, num fim de semana em que ele foi padrinho no casamento de uma amiga, não os encontrei, embora eles soubessem que o filho- e o namorado do filho - estavam na cidade, já que visitamos outros parentes do Mr. Jay.
Cabe ressaltar que, apesar dos pesares, meu futuro marido é um bom filho, ligava para a mãe duas ou três vezes por semana, conversavam amenidades, falavam sobre a família, ele deixava ela falar das coisas dela... Além disso, sempre que ele ficava sabendo que precisavam de algo, ou até mesmo quando ele ia lá e via que podia melhorar algo na casa deles, ele tomava a atitude de fazê-lo. No período que o conheço ele já comprou um maquina de lavar roupas nova para a mãe, já trocou o telefone sem fio deles, pagou viagens, e várias outras coisas...
Quando falamos seriamente em nos casar eu perguntei para o Mr. Jay - "Como você vai fazer com seus pais?" - A princípio ele disse que não ia nem convidar eles, que já sabia qual seria a reação e que não estava com vontade de passar por esta situação. Eu argumentei que ele precisava ao menos convidá-los, e a decisão de não vir é que deveria ser deles.
Logo depois dessa conversa os pais dele vieram para São Paulo, iam se hospedar na casa dele por uma noite pois iriam tomar um voo para uma viagem de férias no dia seguinte, com passagens compradas pelo já citado "bom filho". Meu namorado resolver então romper o acordo implícito de não se falar do assunto e tentou explicar para eles que ele iria se casar e que provavelmente, da próxima vez que viessem a São Paulo, eles iriam se hospedar na casa que dividiríamos... eles se mostraram desgostosos com o assunto e o comentário da mãe dele foi:
"- Então não teremos mais onde nos hospedarmos quando viermos a São Paulo"
Não é preciso dizer o quão triste ele ficou com a reação da mãe, embora afirmasse que a reação era o que ele previa, registrou o "baque", tanto que a partir daí deixou de ligar para a mãe com frequência e ficou os últimos 4 meses sem fazer uma ligação sequer. Reação similar á dos pais, eles se distanciaram muito. Para mim era difícil sequer emitir uma opinião sobre o assunto, mas eu sabia que eles fizeram meu Mr. Jay sofrer no passado, por estes fatos, e outros que presenciei, eu tinha uma imagem negativa deles... mas nunca externava isso, sempre estive do lado do meu Jay nestas situações, mas nunca achei justo colocar mais lenha na fogueira...sempre tive em mim a certeza que este assunto se resolveria - provavelmente uma certeza fruto da experiência da minha querida amiga Edith Modesto com seus jovens do Purpurina - eu, como ela, sei que o amor acha um caminho!
Quando começamos a fazer a lista dos convidados, e a preencher os convites, a primeira reação dele foi de sequer querer fazer convites em nome dos pais, mas argumentei mais uma vez que ele deveria fazer a parte dele, que era comunicar e convidar, que isto no futuro o deixaria tranquilo de ter dado o primeiro passo. Argumentei que se ele já sabia qual seria a reação dos pais isto não o magoaria mais. E ele sabe que se eles falassem alguma outra bobagem eu estarei do lado dele.
Até que chegou o dia dele ir até Minas entregar os convites...
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E você? como seus pais lidam com sua homossexualidade? É assunto proibido?
Por diversas vezes já coloquei para os amigos de BlogsVille que devo ser uma pessoa privilegiada pois, se tive algum problema com a minha homossexualidade foi a de minha própria aceitação. Desde meus 29/30 anos, quando abri o verbo de forma explícita para todos que me cercavam [família, outros parentes, amigos, trabalho] tudo isto foi resolvido. Para surpresa minha, na época, sem qualquer tipo de problema. Primeiro a reação de todos eles quando contei de mim: Ah! Sei! É esta é o que tinha para contar? Conte o que não sabemos ... rs. Nada em minha vida mudou, ou melhor, mudou para melhor pois não carreguei mais o peso do "escondido" e tudo, daí para frente passou a ser falado de forma explícita. Meu namorido na época, a família dele. Tudo foi partilhado, bem recebido e comungado. As famílias se entrelaçaram e assim vivemos até 2012 quando nos casamos no papel. Almoços em família para celebrar e coisa e tal. Já temos até testamento formalizado entre nós com o prévio conhecimento de todos os que possam estar envolvidos. Enfim, esta é a minha experiência.
ResponderExcluirEntendo o quanto deve ser difícil para quem não conseguiu viver esta compreensão. Hoje, calejado da vida, se tivesse que vivenciar isto neste contexto mandaria tudo e todos às favas. Ou me aceitam como sou ou vão catar coquinhos. O que eu acho engraçado em tudo isto é que não aceitam como somos mas aceitam e, de bom grado, quando nos mostramos como bons filhos, amorosos, provedores etc etc etc ... Com todo respeito: #avacagá!
Beijão aos dois e felicidades ...
queridão, vc sabe que a situação que viveu em sua familia foi ABSURDAMENTE especial não sabe? especialmente há algumas décadas atrás! mas isto não foi sorte não, sua familia deve ser realmente especial!
ExcluirMas ainda temos muitos jovens sendo explusos de casa, apanahndo, sendo tratados a força, muitos!
Isto é fato amigo. Neste caso vale aquela questão: Tentamos nos fazer respeitar ... caso contrário, não importa o quanto possa doer no começo ... que se danem ... definitivamente não nos merecem ...
Excluirpelamordedeus continua o post!!!! q aflição querer a parte 2... hehehe
ResponderExcluirolha! não queria causar aflição a nenhum ser vivente! vou escrever a segunda parte entao!
ExcluirTalvez a sogra não mude de opinião, mas você agiu lindamente permitindo e incentivando Mr. Jay a dar sempre mais uma oportunidade.Nunca se sabe quando ou como uma "ficha" pode cair.
ResponderExcluirCaro amigo, achei que era a unica coisa a ser feita, até fui pedir ajuda a Edith!
ExcluirPara meus pais é bem isso: "don't ask, don't tell". Minha irmã não aceita muito, mas tolera melhor e tem até um bom relacionamento com meu namorado. Apesar de minha família ser meio arisca, nunca me maltrataram. Agora, minha sogra (meu sogro faleceu antes que desse tempo de conhecê-lo) e meus cunhados são fofíssimos. Sou absurdamente bem recebido na casa de todos eles. As sobrinhas do meu namorado (de 23 e 19 anos) são lindas e fantásticas. Nesse ponto, não tenho do que meu queixar.
ResponderExcluirManda logo a parte 2, vai!
é por estas e por outras que muitos gays acabam tendo sua "familia de escolha", quando a familia de origem não acolhe!
ExcluirVocê está dando conselhos muito acertados tendo em conta o contexto da situação.
ResponderExcluirTais reacções não me deviam chocar tanto de tão normais que têm vindo a ser também em Portugal mas ...não consigo ... revolta-me sempre especialmente quando vindas da família mais próxima.
Melhores dias virão . Felicidades para os dois.
Magg, é o que se pode fazer! obrigado pelo comnetário!
Excluir1- Fiquei bem surpreso em descobrir agora que você é filho da Judith, há uns 10 anos fui um dos meninos que frequentou o projeto purpurina do GPH. Fiquei feliz com esta lembrança e por você ter uma mãe tão bem articulada, lembro de uma vez que conversei com ela sobre literatura LGBTQ.
ResponderExcluir2 - A relação que tenho com meus pais sempre foi tranquila no que tange as minhas escolhas de desejo. Já fui noivo e meus pais sempre visitaram a ex-futura casa, organizaram presentes e outras coisinhas para a casa nova.
Abraços.
ronaldo , eu não sou filho da EDITH... o filho da Edith se chama Marcello! mas tá valendo! ela é a "mãe simbólica" de muitos gays!
ExcluirOps, entendi errado então... Aliás não sei seu nome...
ExcluirNos dias de hoje, é tranquilo. A família está tranquila, logo eu estou tranquilo :)
ResponderExcluiracho que sua atitude foi linda dentro dessas situações todas e isso é o que do conta!!
ResponderExcluirno final, tudo irá ficar bem... e um forte abraço para voces.
quero continuação logo =P
ResponderExcluirEu sai do armário relativamente tarde, aos 26 anos. O meu pai sempre soube, mas não falava no assunto (deu-me a entender uma vez que sabia) e morreu antes de eu me assumir. A minha mãe não fazia ideia e quando lhe disse a reacção dela foi «Isso é o maior desgosto da minha vida. É pior que a morte do teu pai, mas a tua vida já vai ser difícil lá fora, não te vou fazer a vida difícil em casa. Além do mais sei o filho que criei e não és diferente agora do que eras há meses atrás quando eu não sabia. Se não podes ser feliz da maneira que eu queria, que sejas à tua maneira. O importante é que estejas bem». No fim deu-me um abraço. Isto foi há 16 anos. Convidou sempre os meus namorados para as festas de aniversário e outros eventos de família.
ResponderExcluirContinua a dizer que não percebe a homossexualidade, como é que é que duas pessoas do mesmo sexo se podem sentir atraídas uma pela outra, mas compreende o amor. Nas palavras dela «não compreendo a atracção porque não me consigo sentir atraída por uma mulher e até me repugna, mas sei o que eu amava o teu pai e sei ver quando as pessoas se amam e isso acho bonito e respeito. É igual a mim».
Vivo com o meu namorado e ela passa fins-de-semana na nossa casa, passamos férias juntos e tem uma excelente relação com ele. tenho sorte com a mãe que tenho porque colocou sempre o bem estar dos filhos em primeiro lugar, desde que isso não nos prejudique ou prejudique alguém.
Não sei o que dizer, sou bem transparente, cada vez mais, e a forma como me mostro diz o que as palavras não têm coragem.
ResponderExcluirExcelente post o seu.
Olha... achei muito legal e correta tua atitude, por mais que ele diga que não, a gente sabe que no fundo não é bem assim... De coração, espero que a família se toque a tempo de evitar fazer uma tremenda burrada!!!
ResponderExcluirMinha família é bem tranquila nesse aspecto, já estou naquela fase em que minha mãe pergunta, e ai não apareceu ninguém?! kkkk Achava bonitinho que ela se preocupava com "o último candidato", na época quando eu tive o meu problema de saúde e precisei ser operado, eu pedi que ela ligasse e o avisasse ao final da cirurgia.
Eles se "afeiçoaram"... ele sempre perguntava dela e logo depois ele teve também um problema de saúde, então ela sempre me perguntava ..."E o menino, teve alguma notícia..." ... Achava bonitinho, ela e "o menino" que já tinha 40 anos ehehehe...
Hoje em dia só não sentei para conversar abertamente com meu pai... mas pretendo em breve fazê-lo... Mas não espero maiores sobressaltos não...
Gente, ansioso pela "parte 2"... ;-)
PS -> Interessante que no meu caso, as mothers-in-law, ou quase mothers-in-law para ser correto, sempre me adoram! AHUAHUAHA