"Eu sou soropositivo.
Foto ilustrativa, encontrada na internet, não se refere ao texto especificamente. |
Pronto. Eu escrevi isso. Eu fui diagnosticado logo após completar 21 anos e tenho vivido com o HIV durante mais de três anos. Nesse tempo eu passei a publicar detalhes explícitos sobre minha vida sexual no meu blog para todo mundo ler, mas intencionalmente trabalhei para manter o meu segredo. Mesmo publicando sob um pseudônimo eu recusei falar deste assunto. Mas na terça-feira passada, sentado no aeroporto de Atlanta, eu me perguntava por que eu estava dançando em torno deste pequeno fantasma na sala. O HIV quase não justifica um tal alarido, e certamente não no clima de hoje. Do que eu estava com medo?
Enquanto eu esperava para embarcar eu comecei a escrever um adorável post no Facebook sobre meu status de HIV. Naquele dia (1 de dezembro, dia mundial de luta contar a AIDS) muitos de meus amigos já tinham colocado fitas vermelhas em suas fotos de perfis e fotos de capa. Já era tempo. Escrevi dois parágrafos sobre encontrar esperança e lutar contra o estigma. Eu sabia que ia quebrar meus recordes de CURTIR- qualquer um que não curtisse iriai parecer com um imbecil. E bem antes de eu entrar no avião, eu deletei o post antes de publicar.
Talvez o Facebook fosse demasiado insignificante, pensei. Será que eu quero revelar uma coisa tão pessoal onde as pessoas postar memes com gatos estupidos e vídeos de música? Ou eu simplesmente ainda não estava pronto?
Meu maior motivo para a voltar atrás, eu percebi, eram meus pais. Eu não tenho nenhum de meus pais no Face, mas eu sou amigo de outros membros da família, como a minha irmã e primos, que certamente iriam passar a informação. Eu nunca disse a minha família sobre o meu HIV, e tenho razões para não fazê-lo.
Quase oito anos atrás, durante o verão, antes de meu primeiro ano do ensino médio, meu pai entrou no meu quarto e me perguntou se eu estava "ainda lidando com aquele problema gay." Eu disse que sim, mais ou menos. Depois de algumas horas de gritos e versículos da Bíblia, ele disse: "É cocô. Isso é tudo o que o sexo gay é. Você vai viver em algum apartamento que cheira a fezes e você nem vai perceber isso, porque você vai viver nele " Ele pode ter dito algo depois disso - eu não consigo me lembrar -, mas a próxima coisa que eu ouvi foi: "Você vai se mudar para a capital e morrer de AIDS antes que de fazer 30."
Eu tinha 16. Muitos anos se passaram desde aquela noite, e eu ainda não consigo expressar como aquelas palavras me afetaram ou como elas ainda o fazem. Considerando tudo, eu tive sorte - eu nunca foi chutado para fora da casa, e nunca ninguém pôs a mão em mim. Em comparação com os meus colegas, minha saída do armário foi fácil. Mas eu nunca esqueci aquela imagem que meu pai pintou. Mesmo agora, me enche de vergonha.
Eu não tinha tido relações sexuais com outro homem e não sabia nada sobre isso. Pelo que eu sabia, eu estaria enfrentando uma vida podre e cheia de doenças. Num momento em que eu mais precisava de uma família, meus pais escolheram me levar para falar com nosso pastor uma vez por semana. Sentado em seu escritório vazio, discutimos os meus "desejos pecaminosos" por algumas semanas até que ele desistiu, ou meu pai se cansou de dirigir até lá. Por alguma razão ou outra, paramos de ir. Eu decidi que eu nunca iria dizer aos meus pais nada sobre minha vida pessoal novamente.
Durante a faculdade, a máximo que meus pais sabiam era onde eu morava e quanto dinheiro estava no meu cartão de débito. Eu encontrei uma família de suporte no grupo de apoio aos estudantes LGBTQ na minha faculdade, e eu, eventualmente, tornei presidente deste grupo. No momento em que meu quarto ano veio, eu tinha alguns amigos íntimos, pessoas maravilhosas, e uma perspectiva de "bons ventos" para o resto da minha graduação.
No segundo dia de aula depois das férias de verão, eu fui para a ioga com um amigo no início da manhã. Considerei toda a experiência da yoga um completo desperdício de tempo, mas eu estava lá porque o meu amigo hétero era bonito e musculoso, e preferia fazer ioga sem camisa. Assim que saí, eu recebi um telefonema da clínica. Os resultados do meu último teste DST estavam prontos. "Precisamos que você venha aqui pessoalmente", disse a enfermeira. Eu perguntei por que ela não poderia me dizer os meus resultados pelo telefone como sempre tinha feito. Ela simplesmente repetiu: "Precisamos que você venha aqui pessoalmente".
Eu fui um suicida nas semanas que se seguiram. Eu pesquisei métodos de suicídio, ignorei aulas, e parei de comer. Eu planejava matar-me na quinta-feira seguinte, que tinha sido o meu dia favorito da semana desde que o futebol do time do colégio. Quando quinta-feira veio e se foi, eu planejei para a quinta-feira seguinte. Eu vivi assim, de quinta-feira para quinta-feira, até que eu finalmente liguei para o serviço de aconselhamento de estudantes e marquei uma consulta. Demorou meses para que eu voltasse a me sentir mentalmente saudável. Sempre que meus pais ligavam eu dizia a eles que eu estava bem. Sempre discutiamos quanto dinheiro eu estava gastantdo - minha mãe sempre me lembrava para tentar gastar menos - e então eu desligava o telefone.
Enquanto escrevo isso, me sinto como se eu estivesse arrastando os meus pais para o pelourinho e exigindo seu açoitamento público. Isso não é a minha intenção. Estou simplesmente contando a minha história. Espero que eles entendam isso, e quando lerem isto, espero que eles saibam que eu sou grato pela forma como evoluíram ao longo dos anos. Nós não somos perfeitos - nenhuma família é - mas no ano passado eu trouxe meu namorado para o dia de Ação de Graças. O que marcou um ponto virada para nós, e tenho orgulho disso.
Em setembro passado foi a marca do terceiro aniversário do meu dia HIV. Desde então, eu encontrei os mais gentis, mais sexys, mais inteligentes homens da minha vida - os meus amantes e amigos. Eu não estaria aqui sem eles. Eu tive o sexo mais selvagem e mais alucinante da minha vida desde soroconvertido - muito longe da imagem feia que eu previ no colégio.
Quando meu avião pousou em Los Angeles eu me lembro de pensar, eu bati o HIV. Eu o fiz pequeno. A minha única lembrança dele é minha pilula roxa diária. Por que arrastá-lo (o HIV) de volta para a luz?
Eu percebi que eu não tinha medo de dizer ao mundo. Eu sabia que ir a público parecia ser o próximo passo lógico: uma maneira de combater o estigma, aumentar a visibilidade HIV, e esperamos, trazer uma mensagem de esperança aos indivíduos em todo o país, talvez até mesmo na minha cidade natal, jovens que estão atualmente em alto risco de infecção - entre o maior risco no país.
Mas, quando investiguei os meus sentimentos, me dei conta de que eu ainda estava preso naquela vergonha. Eu ainda estava vendo meu pai no quarto, com o rosto vermelho e coçando a cabeça. Eu estava com medo do apartamento com cheiro de merda e esses leitos hospitalares estéreis - lugares onde os homofóbicos, da cidade pequena com quem cresci, imaginavam quando ouvem sobre as pessoas homossexuais no noticiário.
Eu preciso dizer isso agora, porque não somos esta imagem feia. Somos uma bela família internacional de irmãos, irmãs e irmãos-irmãs. Estou honrado de fazer parte dessa sigla, ser um homem que faz sexo com homens, e que usa um sinal de POSITIVO ao lado meu nome em documentos oficiais, arquivados em consultórios médicos em todo o país. Eu sou um cara POSITIVO. Tenho sobrevivido muitas quintas-feiras desde aquele dia na clínica. Cada quinta é uma vitória para mim.
ALEXANDER Cheves tem escrito artigos sobre sexo, namoro e relacionamentos para a revista GQ e The Advocate. Siga seu blog, O Ex-Namorado Selgagem."
Recebei este arquivo na semana passada da ADVOCATE, uma revista gay norte- americana que eu comprava em papel (nossa que coisa vintage!) e hoje sigo virtualmente. Traduzi para que todos pudessem aproveitar. Fiquei muito impactado pelo depoimento do jovem, acho que só quem vive determinadas situações é capaz de falar com propriedade sobre o assunto.
Fiquei muito chocado com a reação dos pais, mas tb muito surpreso com a maneira como ele teve apoio e superou a questão! Uma verdadeira aula de humanidade!
Eu nem sei como eu enfrentaria uma situação parecida... e vc?
AMEI! Obrigado pela partilha!
ResponderExcluirtb achei bem significativo, por isso compartilhei...
ExcluirNada...NADA justifica a desumanização (preconceito, estigma, etc...) de um ser perante a expressão de sua sexualidade ou de uma doença crônica como o HIV+, porém tenho medo...muito medo de depoimentos escritos com essas tonalidades trágicas no início e que ao final acabam pintando o HIV+ com cores alegres , quase redentoras , como a pílula roxa que Mr. Cheves consome todos os dias.
ResponderExcluirseu ponto de vista é excelente Jose soares! ja comentei la no seu blog!
ExcluirChocante.
ResponderExcluirObrigado pela partilha, mesmo.
tb me choquei com oque ele passou mas curti a superação dele
Excluir:) obrigado pela partilha
ResponderExcluireu achei que muitos iam curtir o texto!
ExcluirA vida é melhor escola q qualquer família, principalmente qdo esta família é composta de pessoas hipócritas, ignorantes, tapadas, obcecadas e dominadas por estas famigeradas doutrinas religiosas.
ResponderExcluircomo vc, eu tb fiquei com muita raiva desta familia dele, uns horrorosos!
ExcluirAdorei a história e a coragem de a contar.
ResponderExcluirComo reagiria? Por norma, mesmo em questões muito negativas, não olho para trás, olho sempre para a frente com muito otimismo.
Neste caso? Talvez choque inicial, desalento no curto prazo, e preocupação no médio prazo. Tenho lido algumas coisas sobre HIV, e, tal como diz o texto, na maioria dos casos, a única coisa que mantém o HIV no quotidiano é um comprimido por dia, tal como quem tem tensão alta ou baixa ou uma qualquer doença auto imune. É actualmente uma doença crónica, apesar de ser mais estigmatizada socialmente. Tenho certeza de uma coisa, ficaria bem pior se me fosse diagnosticado cancer.
permita-me discordar... como todas as graves doenças cronicas o uso de comprmidos diariamente cobra seu preço no organismo, rins figados ficam sobrecarregados, e muito mais...
ExcluirAcho que a realidade de cada um de nós dita o começo e o desfecho que uma história e no caso tão especifico não deixa de o ser. O que se coloca em causa é a realidade pois ela muda.
ResponderExcluirsim oceano... cada um te sua realidade adaptada a sua historia de vida!
ExcluirEle misturou as pilulas que o Morfeu deu ao Neo na Matrix? Tomara que em outros relatos ele inspire pessoas a se cuidarem para não se contaminarem.
ResponderExcluirPelo que li dos outros posts dele, no blog, ele é bem irresponsável, e defende sexo sem preservativo apos as pessoas passarem a usar a PREp
ExcluirO que é PREp?
ExcluirGracias, Obrigado por compartir tu experiencia.
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