30 de junho de 2016

Eu não queria casar!

Sério! Eu não queria casar! 
Não que eu não ame o Mr. Jay e não saiba que ele é a pessoa com quem quero passar muito tempo da minha vida. 
Não que eu não o admire como pessoa e como homem. 
Não que eu não tenha o maior tesão por ele...
Eu não queria casar porque eu sou de um tempo que a gente não podia escolher com quem casar. Eu sou de um tempo em que o casamento estava circunscrito a algumas pessoas, as tais pessoas "normais". Eu sou de um tempo em que casar, constituir família oficialmente, não estava "no radar" dos homossexuais.
Então eu aprendi, com o Mr. Jay, que eu podia sonhar mais alto, podia querer mais do que apenas a sociedade permitia, podia me casar!
Eu, confesso, demorei um pouco a ser convencido, não que eu não o ame, não que eu não queira, muito, estar sempre grudado com ele, não que eu não tenha certeza do quanto ele me ama... Mas eu achava que morar junto era mais do que suficiente, era prova do nosso amor, nosso compromisso, nossa felicidade, mas isso ele chama de "brincar de casinha".

Eu achava que todo aquele "salamaleque" de casamento era bobagem, era uma "gastação" de dinheiro a toa, era muita trabalheira, stress. Para mim casar era de certa forma "pagar pau" para a sociedade, sendo que quem podia definir a minha união deveriam ser apenas eu e ele!

Mas então... Eu casei! 

E foi uma coisa incrível! 

Acho nunca me senti tão especial em minha vida, especial por ser escolhido pelo meu Marido, especial por me permitir viver aquele momento, especial por receber o carinho de tanta gente! Eu terminei o dia em verdadeiro êxtase. Com o peito explodindo numa felicidade de um tipo que eu nunca tinha experimentado...

É claro que teve todo o stress da organização, os detalhes todos para definir, desde escolher o local, definir o que ia ser servido, a cor do convite, que musica tocar, onde as pessoas vão sentar... até combinar show com a DragQueen... ufa!
Mas tudo valeu a pena! 
Parece que as pessoas se emocionaram, se divertiram, se envolveram, pelo menos foi o que me reportaram, então, mesmo a gente organizando o casamento porque era importante para nós, foi muito legal saber que a família, os amigos, gostaram!
Para nós foi uma noite incrível!

Então eu, que tinha aquela postura "blasé", de pouco interesse, em relação ao casamento, mudei de ideia completamente! Realmente o casamento foi uma excelente, incrível, maravilhosa marca para o nosso ANO UM! Agora, eu vou entender perfeitamente o que as pessoas querem quando falam em casar, agora eu criei empatia por algo que não conhecia...
Casamento? EU RECOMENDO!

E você? Recomenda? Almeja? Nem morto?

Foto do nosso CAKE TOP
(tem que ser em inglês para ficar chique)

27 de junho de 2016

Este é o tipo de notícia perfeita para hoje!

Casais gays se divorciam menos que casais héteros, dizem estudos

Veja o artigo do blog MEU BOY MAGIA clicando AQUI 


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E você? concorda com os estudos? Acha que isso é verdade?

22 de junho de 2016

Revisão Programada...

Dentre as várias reflexões, e surpresas, que o processo do casamento me trouxe, também tive que enfrentar um questionamento sobre a amizade... Algumas pessoas que eu considerava amigos, amigas, e que tiveram uma atitude decepcionante quando eu contei que ia me casar, ou mesmo quando entreguei o convite... 

Um deles foi um ex, na realidade o primeiro cara com quem eu tive um relacionamento fixo, um namoro, eu tinha uns 25, ele tinha 19, tínhamos um relacionamento bem estreito, e apesar dele morar no interior trocávamos muitas cartas (nada de internet nesta época) e passávamos quase todos os finais de semana juntos, ou aqui ou lá...
Entreguei o convite dele uns meses atrás, foi um dos primeiros que entreguei, quando ele esteve em São Paulo a trabalho... ele foi absolutamente frio e distante... eu fui até a paulista encontra-lo e ele recebeu o convite e falou "ok"... nada de dizer que o convite era lindo (como a boa educação manda) ou agradecer entusiasticamente ter recebido o convite (como a boa educação manda)... eu fiquei super chateado, tanto que nem topei tomar um café com ele, como combinado, inventei uma desculpa e cai fora...
Alguns dias depois eu recebi um recado dele no Messenger... "você me criou um problema, agora o D quer casar também"... eu achei que era brincadeira, respondi com risadinhas, e ainda completei... "se ele quiser umas indicações de fornecedores é só falar comigo"... Depois disso silêncio total.. 
Até que uns 20 dias antes do casamento ele mandou um recado, através do site de confirmação, dizendo que não compareceria. Nada de pedir desculpas por não comparecer, nada de mandar um recado desejando felicidades, nada de mandar um presente mesmo sem ir no casamento ( coisas que manda a boa educação)
Eu confesso que fiquei triste e decepcionado... Mas ai eu comecei a prestar atenção que a amizade e a consideração que eu tinha por ele era unilateral... só eu enviava recados no cel no dia do aniversário, só eu dava likes e fazia comentários nos posts dele, só eu mandava emails perguntando como estava...
Na realidade eu percebi que era algo unilateral, eu estava acreditando numa amizade que não existia...
O outro caso foi da Rê, minha ex-sócia, colega de faculdade, que eu também considerava minha grande amiga, ou que pelo menos considerava que se importava comigo, que gostava de mim. Para ela eu resolvi fazer um surpresa, liguei e disse: "quero te encontrar para te contar uma coisa super legal" e ela "nossa estou super ocupada esta semana, te ligo semana que vem para combinarmos", não  ligou na semana seguinte, nem na outra. Então eu mandei uma mensagem no cel: "e ai vamos marcar?" e ela "vamos sim! amanha te ligo para combinarmos", e passou um dia, uma semana, quinze dias... e eu com o convite dela no meu carro, todo trabalhado no caligrafo... 
Mesmo magoado ainda insisti: "oi Rê! Quer jantar em casa este fds?" ... nenhuma resposta... três dias depois, já no sábado ela me retorna: "desculpe este fds não vai dar".
E tudo isso em meio ao processo em que ela, muito tardiamente, estava adotando uma criança e - por eu ser um "especialista" -  me ligava e pedia conselhos, me ligava pedindo ajuda para enfrentar a espera, mas nunca perguntando "o que é mesmo que você queria me contar?" (como manda a boa educação)... ela só sabia falar dela... Decepção, tristeza, amizade unilateral, sempre eu indo na direção dela, e eu percebei que fazia isso há muito tempo, talvez tenha sempre feito e me enganado. Não sei.
Tomei a decisão de jogar o convite dela fora, passei no triturador de papel de casa, bem dramático, não entreguei, não convidei

Talvez eu seja meio chato e sem graça, talvez eu seja muito desinteressante, talvez as pessoas sejam mal educadas, talvez tudo isso junto. talvez eu deva selecionar melhor as amizades, talvez eu deva cultivar mais amizades, talvez, talvez...

Minha decisão neste momento foi de "desencanar" deles, não vou mais procurar, vou excluir de redes sociais, vou me esquecer o dia que fazem aniversário. Não sei se é uma crise de auto-estima, se foi um choque de realidade, mas achei importante tomar estas decisões, evitar acreditar em algo que não existe, já passei dessa fase...


E você? Já passou por situações em que percebeu que a pessoa que vc achava que era sua amiga não era verdade?




11 de junho de 2016

Tadinha da mulher sem marido...

(História para mostrar como o mundo é, na real, e não como a gente gostaria que fosse)

Minha prima e meu primo, cuja mãe morreu quando eles tinham 13 e 10 anos respectivamente, eles foram criados praticamente como nossos irmãos, pois o pai deles não teve estrutura para "aguentar o tranco", praticamente os abandonou e minha mãe e eu assumimos esta tarefa. Meu primo foi morar com minha mãe e minha prima veio morar comigo, junto com minha avó na época, então somos muito próximos. Aliás sou como se fosse irmão mais velho de minha prima e ela sempre diz que eu sou o único homem que ela confia...o único homem de verdade na vida dela...

Ela já foi casada duas vezes, uma, ainda muito nova, com um cara que era bem "tranqueira" e sem noção, estilo "músico incompreendido pelo mundo", mas com quem, por sorte, não teve filhos. A segunda vez casou-se com um cara até legalzinho, mas também bem fraco no quesito "trabalhador e provedor responsável", mas com quem ela teve seus dois filhos.
Ela é uma mulher de 40 anos, independente, bem resolvida, que anda tendo seus namorados depois que se separou, que não tem nenhum problema em ter um primo gay e que não tem muitas papas na língua quando se sente agredida. Mas mesmo sendo esta mulher de bem com a vida, ela passou na semana passada por uma saia justíssima

O Edu, filho dela e meu afilhado, vai ser o pajem no casamento, como eu contei AQUI, então este assunto - o primo gay se casando - está presente nas conversas na casa dela. O outro filho dela, 10 anos, até me perguntou se o padre ia falar "eu vos declaro marido e marido"? ou o que? Mas ele falou com total naturalidade, tipo "curiosidade técnica"...rsrsr

Pois bem, ela mora num condomínio com quase duzentos apartamentos, onde as crianças são todas amigas e brincam juntas. Na semana passada ela foi surpreendida com o convite "amistoso" de um casal, cujo filho é amigo do mais velho dela, para subir e tomar um café. 
Eles serviram café, bolo e ai começaram: (estou reproduzindo minha prima contando )
- Então nós soubemos que  seu filho mais novo vai ser pajem num casamento
E ela anuiu com a cabeça, achando que iam falar "que bonitinho"
- E nós soubemos que o casamento é de dois homens, seu filho mais velho contou.
E ela "uhum" com um pedaço de bolo na boca
 - Nós te chamamos aqui para perguntar se você sabe que isso errado, que é contra a palavra de Deus, e que você deixar seu filho puro participar desta ofensa a Deus pode prejudicar a moral dele.
Ela sem mastigar, tomando café com cara de paisagem, Ai a mulher tomou a frente:
- E como nós sabemos que você é uma mulher divorciada, sem marido, sem ter alguém que te guie e te oriente, nós queríamos nos colocar a disposição, especialmente meu marido, que ele pode servir para te aconselhar nesses assuntos.
E ela com a boca num esgar (podem rir que ela é engraçada), lembrem também que ela não podia rodar a baiana violentamente pois estava dentro da casa deles:
Resultado de imagem para mulher sem marido- Eu agradeço muito o seu conselho e oferecimento, mas está tudo em ordem, meu primo é uma pessoa digna e correta e eu apoio todas as formas de felicidade que ele busque. Dá licença que eu tenho roupa para lavar.
Ela saiu sem acreditar e ficou louca para me contar! Mas só conseguiu isso dois dias depois, tadinha da divorciada, ficou mordendo os lábios de vontade de contar para um homem e pedir conselhos. E entre estupefato e assustado eu ri muito!

É incrível não é, preconceito contra gays, contra divorciada, mulher tutelada, a tal da palavra da igreja, tudo em poucos minutos... século XIX na veia! Mas, de verdade, é assim que muita gente pensa não é?
E alguns dias, eu perguntei... e eles continuam deixando o filho deles brincar com o seu? Ela disse... SIM... vai entender, vai ver que eles querem deixar uma boa influencia por perto...rsrsrsr

E você, foi preconceito o que aconteceu? Ou eles queriam mesmo ajudar do jeito torto deles?



Coincidentemente o CARA COMUM, publicou uns meses atras, uma série de estorinhas com este tema que ele viveu.. clique AQUI e leia



7 de junho de 2016

Sair ou Não de Um Casamento?

A propósito do livro que vamos publicar... achei legal dividir com vocês este depoimento que encontrei e que conta uma história muito parecida com a dos Homens que vamos relatar no livro.

É um depoimento do blog PAI GAY, escrito pelo Mau Conti.

Clique AQUI para ler a história dele e entender um pouco mais sobre os homens que vivem esta situação

3 de junho de 2016

O livro necessário! At last!

Ufa! Esta semana entregamos os originais do livro para a Editora Summus! Detentora do selo Edições GLS

Eu não tinha contado que estava escrevendo um livro?  Pois é... Eu estava, desde abril do ano passado, junto com  a Psicóloga Profa. Dra. Vera Moris a escrever um livro para contar a história de um grupo de homens que foram casados, tiveram filhos, e em algum momento se "descobriram gays".

Tudo começou em 2007 quando conheci a Vera. Ela estava desenvolvendo seu doutorado na PUC/SP sobre a Paternidade Homossexual e me encontrou através deste blog... Ela me entrevistou, especialmente para conversarmos sobre a questão da revelação para os filhos - posto que meu perfil é um pouco diferente do deles, pois nunca tive esposa - e acabamos nos aproximando.
A partir do trabalho na tese ela acabou montando o Grupo Homopater, pois percebeu o quanto era importante estes homens poderem encontrar outros em situações semelhantes, dividir sentimentos, experiências, formarem uma REDE de apoio, que como ela sempre diz, é fundamental para os que saem do armário mais tardiamente, depois de uma vida predominantemente heterossexual.
Para você ter uma ideia, da eficiência e validade deste projeto, tem homens que vem do interior de São Paulo, de outros estados, e até de fora do Brasil (brasileiros que vivem na Alemanha (2) e EUA (3) ) só para participar do Grupo.

Eu tenho que confessar que eu era um ignorante com relação a esta realidade, na estreita acepção da palavra. Eu achava que sabia um monte de coisas sobre estes homens, que depois aprendi eram "conhecimentos" fruto do meu preconceito, da minha homofobia internalizada, da minha soberba e de alguns outros defeitos que cultivo na minha horta emocional - horta hidropônica e sem agrotóxicos naturalmente.
Para mim eles eram caras que sabiam que eram gays - como eu sempre soube - e que, ou por medo, por conveniência ou por vergonha, resolveram ficar no armário e se casar com uma mulher, mentirosos que acabaram tendo filhos com estas mulheres que enganaram e que, como já se podia prever, em determinado da vida, ouviram o "som melodioso de uma pica" e viram que precisavam sair do armário, assumir-se gays... ferrando a vida de esposa (sempre apaixonadas por aquele marido tão especial que gostava de cuidar da casa, gostava de acompanhar ela para comprar roupas e que cuidava tão bem das crianças) e dos filhos. Eu simplesmente ignorava a Escala Kinsey, 

Com o tempo, tendo a oportunidade de participar das reuniões do Grupo, podendo conhecer estes homens, eu comecei a entender melhor a vida deles, o quanto sofreram por não entenderem ou não admitirem ser possível serem quem eram quando crianças e jovens, o caminho em busca da heteronormalidade, a esperança de "cura" muitas vezes depositadas na igreja ou num casamento e na  família "margarina" que se empenham para construir. Eu presenciei, ao vivo e em cores dramáticas, alguns destes amigos em seus processos de "outing", as revelações que tiveram que fazer para os filhos e a redenção que parecem encontrar no final. A aceitação de si mesmos!
Eu vi muito sofrimento, eu vi muito desespero, e vi muitos homens se desconstruindo e se reconstruindo.

Foi durante nesse processo, de deixar de ser ignorante, que eu percebi o quanto um livro que falasse sobre estes homens poderia ser rico, e o quanto poderia ajudar outros homens com histórias parecidas, homens que estão isolados, sozinhos, pelo Brasil afora.
Percebi que também poderia ajudar outros "ignorantes" a entender melhor este grupo tão específico de homens, pais e homossexuais. Para mim ele se tornou um livro "necessário", que tinha que ser escrito!
Fui então conversar com a Vera, para ver o que poderia ser feito, perguntar se ela também achava este um livro "necessário" e me surpreendi com ela me dizendo que "já tinha começado o livro várias vezes nos últimos anos" mas que não conseguia levar adiante o projeto! Pronto! Nossa dupla estava formada!

A ideia do livro foi reunir depoimentos destes homens e tentar traçar um perfil deles, mostrar o caminho que seguiram, os tropeços, mostrar historias que foram bem sucedidas e as que ainda estão no caminho. Mais de 30 homens se propuseram a colaborar com seus depoimentos, alguns escreveram poucas páginas, alguns fizeram balanços completos de suas vidas, escrevendo mais de 20 páginas. Tivemos então que ler, editar, escolher, encurtar e definir perfis.
Por vicio profissional a Vera escreve em "psicologues", onde as pessoas não falam, elas "inferem" (risos sarcásticos), já eu defendia um texto mais coloquial, mais próximo das pessoas, pois não escreveríamos um livro para psicólogos, mas para pessoas que quisessem entender mais esta questão. No final chegamos a um consenso bem interessante, mantivemos a linguagem própria de cada depoimento, e incluímos falas de diversos filhos destes homens, por sugestão da Soraia, nossa publisher. (coisa chique né?)
Acho que o resultado destes meses de trabalho ficou muito interessante.

Não sabemos ainda se o livro será aceito, a Summus (para a qual fomos indicados pelo Klecius Borges que edita seus livros lá) A principio a Soraia aceitou o projeto que apresentamos.
Não sabemos o que será cortado ou editado. Poderíamos ter tentado lançar o projeto de forma independente, através de crowdfunding, mas achamos que usar uma editora poderia atingir um publico maior, ainda mais uma que tem um selo específico voltado ao mundo LGBTT.
Não sabemos quando será lançado, a ideia inicial da Soraia é que seja lançado na semana da diversidade de 2017. Mas, com a crise, o mercado editorial não tem lançado muita coisa. Só sabemos que não vamos ficar ricos com o livro!

Mas o que não sabemos não nos aflige, queremos que seja tudo bem feito, então a pressa não é o principal critério.

Mas e você? O que pensa sobre estes homens gays que se casam com mulheres e tem filhos? Eles foram sacanas e covardes?



E.T.  A tese da Vera se chamou:  
PRECISO TE CONTAR? - paternidade homoafetiva e a revelação para os filhos 
e você pode ler ela na integra AQUI, lá eu sou o Reynaldo...