Como eu já contei, eu faço parte de um grupo que faz um trabalho junto ás pessoas que querem adotar, o PROJETO ACOLHER, pois bem, neste sábado os voluntários estavam reunidos e discutiamos o tema de nossa próxima palestra - Adoção Inter Étnica (que antigamente era nominada adoção "inter racial"). Estavamos pensando em como abordar a questão, a importância dos pais se envolverem e valorizarem a etnia da criança, o mêdo que os pais tem que a criança sofra preconceito... quando a amiga A (que é mãe solteira por adoção e uma das fundadoras do grupo) e a única negra presente, nos interrompeu:
Ser negra é sentir na pele quando você abre a porta de sua casa e alguem pergunta se "a patroa" está!
Ser negra é ouvir que você venceu na vida "apesar" de ser negra!
Ser negra é ter que ensinar seu filho, de 14 anos, que ele deve sempre sair de casa com documentos e que nunca deve reagir nem responder torto para um policial porque ele - com certeza - vai ser barrado na rua inúmeras vezes na vida.
Ser negra é ser barrada na entrada na porta do prédio que você acabou de comprar apartamento!
Ser negra é não ter condições de criar seus filhos, porque você não teve acesso a escola de qualidade, a oportunidades de emprego, e eles irem parar numa instituição para serem adotados!
Vocês não sabem como é a vida de mais de 50 milhões de brasileiros!
Vocês não sabem como é a vida de mais de 50 milhões de brasileiros!
Estas famílias não sabem, nem nunca saberão, o que é ser uma criança negra, o que é ser uma negra numa família branca!"
A fala, emocionada e em tom de desabafo, calou a todos na reunião. Ela é uma grande mulher, uma vitoriosa sem dúvida, uma mulher doce e que conheço há mais de 10 anos. Podem ter certeza que a fala dela não tinha nenhuma intenção de nos agredir ou nos dar uma lição de vida. Era a fala de uma pessoa que estava magoada, cansada, uma pessoa que é atingida dia a dia pelo preconceito e pelo escárnio da sociedade.
Eu chorei muito enquanto ela falava, chorei por ver uma amiga sofrer, chorei por pensar quantas vezes eu posso ter sido preconceituoso sem perceber, chorei por pensar que o mundo é uma bosta e como tem tanta gente sofrendo apenas por ser negra, apenas por ter estampado na cara, no corpo, uma pele, um cabelo, que as pessoas acham que é pior, que é ruim, que é feia! Chorei porque fiquei pensando em quantas famílias adotam crianças negras e quantas vezes eu disse "que isto não seria verdadeiramente um problema se as pessoas aprendessem a lidar com isto. (na sala tinha duas mulheres brancas que tem filhos negros ).
Eu me emocionei porque eu queria tanto que o mundo fosse um lugar cor-de-rosa e que estas coisas não existissem. O gay também sofre precoceito, é lógico, e o judeu, e as mulheres, e os pobres... este e o argumento que sempre usamos para tentar explicar e nos defender de nossas falhas para melhorar isto não é?
Mas o negro sofre preconceito a milhas de distância, ele é negro, você o reconhece no fim da rua, do outro lado da rua, na foto do jornal, no programa de televisão.. aliás? Que programa de televisão? Não tem nenhum programa de televisão! O negro é sempre negro, o gay é gay quando se assume (ou quando fala "um luxxxo") o judeu é judeu quando vemos o sobrenome dele... o negro é sempre negro! E sofre preconceito, é diminuido, é relegado a um segundo plano apenas pela cor da sua pele!
Eu não sei o que é isto, não sei o que é viver dia e noite com isto! Mesmo gay eu não sei o que é ser tratado como cidadão de segunda classe...aliás, ser tratado como ser humano de segunda classe!
Que saco esta bosta de mundo!
E você? Como você percebe o preconceito contra os negros?
Eu chorei muito enquanto ela falava, chorei por ver uma amiga sofrer, chorei por pensar quantas vezes eu posso ter sido preconceituoso sem perceber, chorei por pensar que o mundo é uma bosta e como tem tanta gente sofrendo apenas por ser negra, apenas por ter estampado na cara, no corpo, uma pele, um cabelo, que as pessoas acham que é pior, que é ruim, que é feia! Chorei porque fiquei pensando em quantas famílias adotam crianças negras e quantas vezes eu disse "que isto não seria verdadeiramente um problema se as pessoas aprendessem a lidar com isto. (na sala tinha duas mulheres brancas que tem filhos negros ).
Eu me emocionei porque eu queria tanto que o mundo fosse um lugar cor-de-rosa e que estas coisas não existissem. O gay também sofre precoceito, é lógico, e o judeu, e as mulheres, e os pobres... este e o argumento que sempre usamos para tentar explicar e nos defender de nossas falhas para melhorar isto não é?
Mas o negro sofre preconceito a milhas de distância, ele é negro, você o reconhece no fim da rua, do outro lado da rua, na foto do jornal, no programa de televisão.. aliás? Que programa de televisão? Não tem nenhum programa de televisão! O negro é sempre negro, o gay é gay quando se assume (ou quando fala "um luxxxo") o judeu é judeu quando vemos o sobrenome dele... o negro é sempre negro! E sofre preconceito, é diminuido, é relegado a um segundo plano apenas pela cor da sua pele!
Eu não sei o que é isto, não sei o que é viver dia e noite com isto! Mesmo gay eu não sei o que é ser tratado como cidadão de segunda classe...aliás, ser tratado como ser humano de segunda classe!
Que saco esta bosta de mundo!
E você? Como você percebe o preconceito contra os negros?
Meu amigo, eu percebo e sinto dentro da minha própria casa desde pequena, é horrível e cruel, e pode ter certeza que doí para caramba cada frase da tua amiga porque é extremamente real.
ResponderExcluirAbraço forte de quem acredita que um dia o mundo pode ser melhor.
dentrodabolh.blogspot.com
eu não deixei de acreditar, aliás quem tem filhos tem que acreditar que o mundo pode melhorar! mas eu fiquei tão triste, me sentindo tão impotente!
Excluirbeijo na bolha!
Um Branco corre, perdeu o autocarro, Um Negro corre, roubou algo...
ResponderExcluirUm Branco diz Preto é racista. Um negro diz Branco, e é o Poder Negro
Mentalidades, direi eu
aqui não é diferene francisco, mas acho que pelo contingente de negros no brasil isto deveria ter evoluido mais rapido!
ExcluirAssunto difícil, hein HHP? Porque é sempre difícil falar de preconceito num pais tão hipócrita quanto o nosso. Dizemos que não temos preconceito, mas apontamos um judeu na rua quando usam aquelas tranças (que até hoje não sei o motivo). Ficamos com medo quando estamos na rua e alguém, com cara de pobre, se aproxima de nós. Mulher ao volante. Homem na cozinha. Gays se beijando na rua. Queria dizer que estamos livres disso tudo, mas não estamos. Infelizmente.
ResponderExcluirSeu "Minino avuadô", os judeus foram definidos como os ESCOLHIDOS por Deus para divulgar sua palavra, no antigo testamento diz q para serem reconhecidos como portadores da palavra de deus eles nao devem cortar "a ponta da barba" e o cabelo que nasce nas têmporas... provalelmente porque as roupas da epoca, em funçao do calor do deserto e do sol, cobriam a cabeça....
ExcluirHHP, babei! Obrigado pela explicação. Beijos.
Excluiré, amigo, vc precisa definitivamente abrir sua cabeça. Como sua amiga, eu também sofro preconceito por ser gay todo dia, quando eu abro a porta e piso na rua eu já estou sob os olhares negativos, quando eu caminho até pegar meu ônibus e alguém grita na rua, de dentro de um carro, viadinho; eu sofro no trabalho, em todas as entrevistas que nós notamos que somos o melhor candidato para a vaga, mas ele não vai me contratar porque sou gay, quando eu estou dando aulas, sou avaliado que sou inteligente, apesar de ser gay, que sou educado apesar de ser gay. Eu entendo que por vc não ser efeminado, vc não enxerga isso, mas na posição que vc se coloca para ajudar o outro, é preciso aprender a se colocar no lugar do outro.
ResponderExcluirPor falar nisso, acrescento que judeus tem características físicas que os definem como grupo, para quem tem preconceito não é necessário o sobrenome para reconhecê-lo.
Repito, acho melhor você desenvolver mais empatia.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirEu recebi seu comentário por email, pq apagou aqui?
ExcluirVocê não quer um mundo cor-de-rosa! Você quer um mundo mais justo! Não se entristeça por desejar algo tão belo e ainda possível, apesar das eventuais interpretações equivocadas.
ResponderExcluirbjs
Que bom que mais alguem tb acha que dá para ter um mundo cor de rosa! um beijo moço !
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirComo percebo? Na pele.
ResponderExcluirEu sou pardo, mas me considero negro. E pelo visto não sou só eu que me considero não. Já fui dar aula particular em condomínio de luxo e me mandaram usar o elevador de serviço. Já fui o único parado e revistado pela polícia ao andar com um grupo de amigos meus (todos brancos). Meu namorado é negro, e também vivenciou todo tipo de bagaça que você imaginar. A mais recente foi um advogado que se recusou a pegar um caso dele, porque julgou que ele não teria condições de pagar o processo simplesmente por ele ser negro (e na visão dos preconceituosos, automaticamente pobre).
Só achei estranho o fato de você não se sentir tratado como um cidadão de segunda classe por ser gay. As pessoas fazem questão de enfatizar e bradar atrocidades o tempo todo que denigrem a nossa imagem e nos coloca no patamar de baixo... você se mostrando ou não...
Lobo, obrigado por seu coment e por dividir suas historias! Este tipo de agressão, dia e noite, é terivel para a auto estima de qualquer pessoa! E isto não é admissiviel!
ExcluirO que eu disse é que os gays tb sofrem, mas não neste nivel, o tempo todo! mas nunca querendo minimizar que tb somos tratados como cidadaso de segunda categoria! Vamos mudar isto? Sim! Mas como?
abraçao!
Não sou negro, mas já recebi formas de preconceito de diversas maneiras. Mas de qualquer forma, temos que deixar isto um pouco de lado se quisermos ter uma vida melhor e estudar. Apenas não concordei no fato de não ter acesso à educação por ser negro, isso não é devido a cor da pele e sim por causa da vergonha que anda a educação brasileira adicionado ao fato de não ter condições socioeconomicas, independente de ser negro ou branco.
ResponderExcluirSua amiga devia estar bem nervosa, espero que ela tenha tido o apoio de todos na hora.
Triego, realmente ela estava muito emocionada, com todos nós, e procuramos apoia-la, mas sem duvida a dor que ela sente, de anos de preconeito, não vai passar com um abracinho dos amigos.
ExcluirOi... Emocionante teu relato, impossível não se solidarizar com a sua amiga, penso que cada um de nós está sempre passando por algum tipo de preconceito... e o mais complicado, cada um de nós também carrega um pouco de preconceito em si... e o desafio de mudar isso nunca é simples. Vejo as pessoas discutindo a questão das cotas... que inclusive hoje vai estar em pauta naquele programa do Pedro Bial... sempre com essa coisa da hipocrisia velada.
ResponderExcluirOlha que bom que sua amiga pode fazer esse desabafo e principalmente ter o apoio de vocês...
Agora fiquei pensando na ótica das crianças... tem um novela que abordou essa questão, é novela, bla bla bla... mas teve algumas coisas que me chamaram a atenção... o garoto branco foi adotado por uma mãe negra, professora universitária, bom nível e tudo mais. E era motivo de desconforto para ele, porque todos notavam que ele era adotado... e isso o desestabilizava. Há um preconceito com crianças adotadas... muitos pais nunca revelam aos seus filhos que eles foram adotados... mas nesse caso, não há como... fiquei pensando em como essas crianças percebem as coisas.
Bom... falei demais... Abração.
Latinha, na realidade hoje em dia não tem mais este papo de não revelar para o filho que é adotado, nos ultimos anos as pessoas que pretendem adotar, e o preparo delas pelo judiciário e pelos grupos de adoção evoluiu muito e ninguem mais pensa em esconder esta informação da criança, ou melhor, ate pensa mas não faz! Os pais sempre querem "poupar" os filhos de sofrerem, de serem discriminados, mas isto é quase impossível! E é bom , pois a sociedade branca acaba tendo que lidar, e lutar cotra este preconeito terrível! abraços!
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