continuação de
O futuro pertence a quem?
Nesta questão do futuro dos filhos acho que a maioria dos pais (e mães) sempre oscila entre duas possibilidades:
Tem um lado nosso que quer que os filhos aprendam suas próprias lições, façam suas próprias escolhas e desfrutem de seus acertos (e aprendam com seus erros). Queremos mostrar que confiamos nos filhos, que apoiamos suas decisões. Sabemos que é assim que se constrói o caráter de uma pessoa, que é assim que as "personas" são construídas.
Mas temos um outro lado! Não queremos ver nossos filhos e filhas sofrerem! Queremos diminuir as dores de crescimento de nossos filhos, temos medo que eles sofram, temos medo que deem muitas cabeçadas e se percam numa certa infelicidade. Queremos dividir com eles a nossa experiência, o nosso aprendizado, para que eles possam usar o passe "fast track" onde já ficamos na fila! Para que as coisas sejam mais fáceis para eles, e, porque não dizer, para que eles sejam mais bem felizes e bem sucedidos em suas escolhas que os pais. Todo pai sonha com isso, que seu filho seja mais e melhor que ele mesmo! A não ser que você seja
CRONOS!
Se deixarmos a balança pesar de um lado, delegando aos nossos filhos o controle absoluto e sem interferências de suas decisões estaremos agindo certo, mas se exagerarmos na dosagem podemos estar "delargando" ao invés de delegando, pois todo mundo, em todos os momentos, se beneficia de ter apoio na tomada de decisões. Quando transferimos responsabilidade sobre algo também devemos estar preparados para dar o apoio necessário e para ajudar a pessoa a completar seus objetivos se for necessário! Mas tem pais que dizem "não quer seguir meus conselhos? então vire-se!"
Já, se a balança pesar muito de outro lado, podemos estar criando seres humanos que terão muitas dificuldades de tomarem suas próprias decisões e que serão - muito provavelmente - muito inseguros. Pessoas que não terão nunca certeza dos seus objetivos e do que fazer para alcançá-los, pessoas muito frágeis para lidarem com insucessos e com as voltas que a vida dá!
Talvez a alternativa para esta "doce" dicotomia esteja no meio termo, a resposta parece sempre estar no meio termo não é mesmo? Nem "delargar", nem decidir tudo pelos filhos...
Minha filha está tão aflita com as decisões acadêmicas e profissionais que tem que tomar que até levantou a hipótese de "trancar a faculdade e ir trabalhar em qualquer coisa", "ir viver um tempo numa comunidade alternativa em Paraty" ou até mesmo "ir trabalhar numa plantação de morangos na Austrália por dois anos, conseguindo então a cidadania australiana, como meu amigo (nota do pai: amigo de família podre de rica) está fazendo" .
Alternativas que eu acho válidas como experiência de vida - tudo que fazemos na vida é experiência não é? - mas que nesse momento me parecem ser a maneira errada para lidar com o dilema que se apresenta... ao invés de um projeto de vida, parecem muito mais uma fuga do stress de ter que resolver.
Eu penso que filho é para sempre! Não tem essa de
"cresceu agora se vira pois não é problema meu"! Eu não vou deixar de ter responsabilidade e querer ajudar nunca! Nunca! Ou, como diz a querida
Edith Modesto:
"filho é bom e dura muito!"
Conversei muito com ela e deixei bem claro que qualquer decisão dela vai ter meu apoio, e faço isso de coração, pois não tenho nenhum tipo de sonho de ter uma filha "doutora" ou "famosa" ou "rica". Minha "tarefa" é ajudar ela a ser uma mulher plena, bem consigo mesma, centrada e que possa de alguma forma, melhora um pouquinho do mundo a nossa volta...
...a minha (quase) única regra, é que ela não desista de concluir um curso de graduação neste momento, seja qual for, em que faculdade for, mesmo que comece um novo agora! De agronomia a turismo, de engenharia a culinária, qualquer faculdade!
Esta minha "regra" é porque para mim a EDUCAÇÃO é um valor indiscutível! - E eu não estou em campanha eleitoral! Eu acredito piamente que
a experiência da faculdade é importante nesta idade, mesmo que não seja algo que você siga uma profissão para sempre (eu já dei pelo menos duas "guinadas" na minha vida e ela sabe bem porque já contei), fazer a faculdade mais velho lhe tira a possibilidade de vivências que considero importantes na formação da pessoa, o ambiente universitário, de discussão inclusive política e social - que imagino não terá na plantação de morangos ou como caixa numa loja - são imprescindíveis a meu ver para a formação da pessoa, coisas que a família, o trabalho, não podem oferecer. Desistir da faculdade neste momento, sem um plano B coerente não é um alternativa que vai contar com meu apoio.
Em casa mesmo, com o Mr Jay retomando a faculdade anos depois, vemos como o processo é difícil...
No meio tempo ela terá todo meu apoio para passar férias na comunidade de Paraty, para trabalhar em algo que lhe permita fazer a faculdade ou até mesmo viajar para colher morangos(!!!). E inclusive ela poderá passar pela experiência, no futuro, de fazer a faculdade mais velha, como eu estou fazendo nos últimos dois anos!
E você? O que acha da minha "regra"? Acha que estou sendo "careta" e tolhendo a liberdade dela? Ou acha que, como pai, eu tenho que, neste momento ainda, traçar alguns limites e exigir algumas coisas?