Quando eu tirei meu time de campo a primeira sensação foi de um alívio profundo! Eu me senti aliviado de não ter mais que conviver com ele, especialmente porque como profissional eu já me sentia totalmente desmotivado a trabalhar num ambiente onde havia ZERO reconhecimento e ZERO apoio. Eu nunca tinha sentido isto ao deixar um trabalho, era um tipo de bulying que eu nunca tinha sofrido.
Como eu não sou um cara preguiçoso e como eu gosto de trabalhar, de empreender, eu não tinha muito medo do futuro profissionalmente falando, apesar que eu sabia que minha atitude poderia prejudicar o padrão de vida da minha filha. Pensei imediatamente que precisaria mudar ela de colégio, talvez ir morar num apartamento menor...Mas por outro lado eu sabia que se eu não estivesse bem ela seria muito mais prejudicada, pois fatalmente aquele ambiente ainda ia me causar algum tipo de cancer...
Mas a sensação de alívio era enorme, o que me deu a certeza de que eu fiz o que devia ter feito... se bem que hoje sei que eu devia ter sido mais inteligente, mais estratégico, mas .... eu era uma animal acuado, e só consegui ter aquela atitude, fugir.
Foi nesta mesma semana que tive coragem de chamar minha mãe para uma conversa, chamei ela para jantar num restaurante, num território neutro, mal nos sentamos eu perguntei o que eu precisava saber:
- Mãe, porque o Papai me odeia tanto? Eu fiz alguma coisa errada que eu não sei? É porque eu sou gay?
Eu percebi nela um esgar, mas ela não se furtou a responder:
Segundo ela eu não tinha feito nada errado que eu não lembrasse, nem ela achava que a atitude dele era porque eu era gay, que podia servir como um potencializador.
Segundo ela, desde o dia que eu nasci ele me rejeitou.
Ela me fez entender que o EGO do meu pai é gigantesco, que ele desde o momento que eu nasci, apesar dele ter de certa forma curtido a gravidez - que atestava seu valor de macho procriador aos 23 anos - percebeu que o trono de homem da casa estava perdido ... e a partir deste momento ele passou a me rejeitar.
Eu não tinha feito nada errado, eu apenas tinha nascido.
Na verdade enquanto ela falava eu entendi perfeitamente o mito do Deus CRONOS...e eu entendi perfeitamente meu papel de Zeus nesta estória. E eu já li muitas estórias parecidas, de filhos rejeitados apenas por existirem!
Saber disto foi absolutamente libertador! Eu sai daquela conversa modificado pela verdade!
Não que eu não soubesse do EGO de meu pai, ele é do tipo de pessoa que sempre, sempre, PRECISA ser o centro das estórias, e constantemente ele exagera fatos em suas memórias para que ele possa se destacar, mas o filho tem sempre certa dificuldade em enxergar os defeitos do pai, e, no fundo, até nos divertíamos com o que achávamos era uma mania.
Mas ela me mostrou e exemplificou que o movimento interno dele só se satisfaz com pessoas "babando o ovo dele" e com pessoas que se mostram servis e subservientes, pessoas que mostram e fazem rapapés para a "importância" dele. E ai eu entendi porque meu espirito iconoclasta e questionador nos afastava mais e mais.
E, de certa forma, tranquilo por entender que na realidade ele não me odiava, ele me temia... porque eu era o cara que sabia (no inconsciente dele) que ele seria destronado, ele sabia que haveria um momento que eu teria mais vigor físico, mais juventude, mais força que ele. O inconsciente dele me temia porque sabia que eu iria assumir o papel de chefe da família, que eu seria a versão melhorada dele... ai entra o Jung, o Freud e os deuses gregos para explicarem estes mitos e arquétipos...
Agora que eu sabia o que estava acontecendo é que eu podia enfrentar melhor esta situação.... (continua)