20 de maio de 2007

Histórias que nos interessam...

(publicadas na revista veja desta semana)

Como qualquer outra família
Vasco Pedro da Gama Filho, 35 anos, cabeleireiro de Catanduva (SP). Ele vive com o companheiro Júnior de Carvalho, 43 anos
“O Júnior e eu estamos juntos há quinze anos e sempre quisemos ter um filho. Nossa primeira tentativa de adoção foi em 1998. Sabíamos que seria impossível obter isso como casal e, então, entrei com pedido de adoção sozinho para depois o Júnior entrar com o pedido de paternidade. Ainda assim, o juiz negou, alegando que se tratava de uma ‘relação anormal’. Tentamos novamente em 2004 e, finalmente, conseguimos entrar na fila de adoção. No final do ano seguinte, conhecemos a Theodora, hoje com cinco anos. A juíza que cuidava do caso autorizou que ela passasse as festas de final do ano com a gente. Em seguida, consegui uma guarda provisória de um mês e a adoção definitiva saiu em março do ano passado, em meu nome. Dois meses depois, o Júnior entrou com o pedido de paternidade e, em novembro, obteve esse direito. O que nos ajudou a conseguir a adoção de Theodora foi a mudança na mentalidade das pessoas. Sentimos que o preconceito contra a homossexualidade diminuiu muito da segunda vez que entramos com o pedido, em 2004, em comparação à primeira vez, em 1998. Da segunda vez, vários empresários da cidade e donas-de-casa vieram nos cumprimentar, dizendo que torciam para que a gente ganhasse a criança.
A Theodora estuda num colégio particular das 13h às 17h. De manhã, a gente prepara o lanche dela, confere as tarefas escolares e almoça junto. À noite, damos banho e preparamos o jantar. Nos finais de semana, levamos nossa filha à lanchonete, à pizzaria ou vamos à casa de amigos. Estávamos preocupados com a possibilidade dela sofrer preconceitos, mas isso não aconteceu. Ela freqüenta o clube da cidade e sempre é chamada para a festa de aniversário dos amiguinhos. Vamos à reunião de pais e mestres, freqüentamos festinhas escolares. Enfim, somos como qualquer outra família.
União Estável

Toni Reis, 42 anos, professor de inglês e português. Ele vive em Curitiba (PR) com o tradutor inglês David Harrad, de 49 anos
“O David e eu estamos juntos desde 1990. Nos conhecemos em Londres e, um ano depois, viemos juntos para Curitiba. A única opção que o David tinha de ficar aqui era por meio do visto de turista. Quando o documento venceu, ele continuou no país de maneira irregular. Não podia trabalhar e vivia sob a ameaça de ser descoberto pela Polícia Federal. Não havia outro jeito, porque não podíamos nos casar e nossa relação não era reconhecida como união estável. David foi descoberto em 1996 pelos policiais federais e acabou sendo levado à delegacia e notificado para deixar o Brasil no prazo de uma semana.
Decidimos, então, tornar o caso público. Levamos a história à imprensa e a repercussão foi enorme. Ganhamos o apoio da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e vários deputados federais, entre eles Marta Suplicy e Fernando Gabeira, fizeram uma romaria pelos Ministérios da Justiça e do Trabalho em nosso favor. A mobilização deu resultado e o David conseguiu um visto temporário, que precisava ser renovado de tempos em tempos. Em 2003, conseguimos na Justiça uma liminar reconhecendo nossa união estável e, em 2005, David obteve finalmente o visto permanente, porque o Conselho Nacional de Imigração nos reconheceu como uma ‘reunião familiar’, da mesma maneira que ocorre com os casais heterossexuais que vivem em união estável. Queremos agora adotar duas crianças e já entramos com o pedido na Justiça.”

Pensão do INSS

Isidoro de Souza Rezes, 40 anos, comerciário gaúcho
“Vivi com meu companheiro, o funcionário público gaúcho Ricardo Pecin Couto, durante onze anos e meio. Ele era funcionário da Caixa Econômica Federal em Porto Alegre. Em 1994, a Caixa começou a fazer o recadastramento dos funcionários no plano de saúde. O Ricardo tentou me incluir como seu dependente, mas minha inclusão foi negada porque, segundo a empresa, ‘família era constituída de homem e mulher e ponto final’. A partir daí, ele passou a ser alvo de piadas dentro do banco. Então, no ano seguinte, resolvemos entrar na Justiça para solicitar essa inclusão. A sentença foi parcialmente favorável a nós. Com ela, consegui ser incluído no plano, mas ainda assim não obtivemos o reconhecimento da união estável. Em 1999, o Ricardo faleceu de AVC, aos 32 anos, e a Caixa tirou meu benefício. Tive de entrar na Justiça mais uma vez para obter o reconhecimento da união estável e ter direito à pensão do INSS. A decisão saiu em 2001. Fomos o primeiro casal no Brasil a ter reconhecimento de união estável entre dois homens.”Copyright © Editora Abril S.A. - Todos os direitos reservados

4 comentários:

  1. Valeu pela visita vizinho. Vc me questionou como estou um mês depois da perigrinação peças baladas, to na mesma cara, com mees principios e valores. Com uma sensação de ter rompido mais um medo meu e superado uma travamento que tinha. Não voltei mais nas baladas, não por pudor ou algo assim,mas por que ter as minhs baladas com meus amigos heteros e elas tb me completam. Simplificando é isso!

    Quanto ao te post, gostei muito, uma sessão de boas noticias, coisa rara na vizinhança. Penso o quanto essas pessoas lutarem pelo que acreditam, que sirvam de exemplo.

    Um abraço

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  2. Pois é...
    Tá na hora de eu entrar na justiça pra garantir algumas coisas, eh eh...
    Meu querido, ainda não trouxe todas as respostas, mas tenho post novo, com novas emoções...
    Aguardo você e sua opinião:

    www.vilser.blig.com.br

    Abração!

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  3. Ótimas notícias! Aos poucos vamos conquistando direitos e o reconhecimento que tanto queremos. Mas o começo é sofrido, sem dúvida.

    Bjs

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  4. Já são casos conhecidos...
    A lei embora retrograda mas pessoas estão muito mais tolerantes!

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