17 de agosto de 2016

O "empoderamento" ou " A Bicha Abusada"

Eu nunca fui muito de me esconder... de esconder o fato de ser homossexual... eu tenho consciência que muitas vezes eu preferi ser "discreto"...mas agora eu tenho percebido que eu estou ficando meio "abusado"! E acho que isso tem muito a ver com meu casamento...
Eu falo que sou casado com um homem com a maior naturalidade e ás vezes até forço a situação para poder falar... eu me divirto falando "o meu marido"... e adoro ver a reação das pessoas...

É bem divertido a pessoa olhar para a aliança no dedo da mão esquerda e perguntar... a sua esposa trabalha no que? e vc corrigir... eu não tenho esposa, tenho marido! E isso também acontece com Mr. Jay

Ontem estávamos na delegacia - infelizmente roubaram o carro dele,  acharam umas duas horas depois todo detonado mas ai tivemos que fazer boletim de ocorrência - estávamos preenchendo as papeladas necessárias...quando ele saiu e foi para outra sala...  o policial me perguntou... "vocês são parentes?" (nossa! como ele deveria estar curioso!) 
E eu respondi com a maior naturalidade: "nós somos casados"
Eu percebi que ele ficou meio sem graça com a resposta natural minha... talvez o mais comum ainda seja o pessoal dizer "ele é meu amigo"... ele até me pediu meu documento para anotar que eu era o acompanhante... mas acho que ele queria mesmo era conferir os sobrenomes...
Ai a escrevente, preenchendo os documentos, perguntou se ele não tinha RG de São Paulo, e ele disse: "eu casei agora e meu rg novo não ficou pronto ainda" e ela "ah estou vendo a aliança brilhante de vocês, quando estiverem casados há 17 anos como eu ela vai ficar assim riscada como a minha" (mostrando a aliança) e ela ainda fez piada, dizendo que a minha estava menos brilhante porque provavelmente era eu que lavava mais louça em casa... #sqn!

Acho que este empoderamento veio, sem dúvida, do fato de eu ter um documento, oficial, dizendo que sou casado com um cara... documento que não pode ser contestado por nenhuma religião, que tem que ser aceito em todos os lugares... afinal de contas eu nunca tive uma carteirinha dizendo que eu sou gay, apesar de ser "gay de carteirinha". 

Acho até que seria interessante isso, ter um documento que fala que vc é gay... ai a gente não precisaria ficar falando, vc entrega o documento, ou preenche o cadastro, e ninguém fica querendo te empurrar a amiga solteirona ou perguntando "como chama sua namorada"...e nem fazendo piadas com  bucetas na sua frente... se bem que se a gente fosse ficar preenchendo tudo "que a gente é" ia ficar um cadastro gigantesco... porque eu sou muito mais apenas do que ser Homem, Homossexual e Pai... melhor ficar só nome e sobrenome né?
Mas sem dúvida ter um documento oficial que de certa forma mostrasse que não queremos esconder isso podia ajudar É por isso que os transgêneros lutam tanto para terem documentos que combinem com as identidades de gênero que assumem! Eu imagino a humilhação de uma mulher, linda, bem vestida, ter que viajar com o documento de João Pedro...
Acho que a atitude de alguns amigos, que o pessoal categoriza como "afeminados" ou "pintosas" já funciona um pouco como este RGgay, logo de cara você já sabe, eles deixam tudo bem claro de antemão... Mas a verdade é que em muitos ambientes ainda é perigoso parecer ou se declarar gay, pois muitos ainda estão sendo mortos só por isso!

E vc? Quer ter carteirinha? Ou como está tá bom?





13 comentários:

  1. Tenho minha semi-carteirinha e já me basta ... rs

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  2. Hilário, adorei o relato na delegacia, mais ainda da escrevente rsrs...mas como terminas o blog, assim me sinto, sei o que sou e não vou gritar para o mundo, mas não nego se questionado. Bom este blog.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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    1. Jair, estou colecionando estas histórias! obrigado pelo carinho ! abraços!

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  3. Ultimamente, penso que o melhor método para combater a falta de visibilidade gay (lésbica, bissexual, trans, etc.) como o não reconhecimento, desrespeito, intolerância, agressões diversas é mostrar ao mundo que existimos em todas as esferas sociais imagináveis e inimagináveis.
    Sobre ser agredido simbolicamente ou fisicamente, precisamos tomar o cuidado em não culpabilizar a vítima pela sociedade machista que vivemos, o problema nunca está em assumir-se e mostrar-se, mas sim com aqueles que se acham no direito de agredirem outro sujeito por ideologias pessoais.
    Talvez a carteirinha seja um passo, mas acredito que mais para maquiar, afinal quais direitos seriam conquistados com esta tal carteirinha? E imagina esquecer em casa um documento probatório destes...

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    1. Sem dúvida Ronaldo, SOMOS MUITOS E ESTAMOS EM TODOS OS LUGARES, e precisamos mostrar isso...

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  4. Não entendi muito bem isso da carteirinha...

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    1. Limite... é só uma brincadeirinha, não é nada a sério... o ideal é que todo mundo fosse aceito sem precisar dizer o que é...

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  5. Que situação engraçada, eu também nunca me preocupei em me esconder, se perguntarem eu respondo, se não eu também não digo ... agora como também sou casado, e estou sempre junto com meu companheiro, porque não falar ... esse é meu companheiro (não consigo chamar de marido, até meu pai diz que ele é meu marido mas, eu não consigo, rs).

    thewithlock.blogspot.com/

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  6. Isso é libertador, mas dá um trabalho imenso, dependendo do local.

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  7. Delícia de leitura seu blog.
    Não tô nem aí com nada, com ninguém, com lugar algum, com amigos, com família... Com nada.
    Sou o que sou, sou feliz, mostro isso, sou aceito, embora não busque aceitação ou aprovação de ninguém. Não preciso do documento comprobatório, porque eu mesmo, no meu jeito, na minha figura, no meu pensamento e na minha atitude já sou o próprio documento.
    É um prazer te ler!

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  8. Penso que é uma coisa que vem do amadurecimento e do bem-estar que vamos sentindo... Eu não acho que seja muito parâmetro para alguma coisa e como solteiro, acabo ficando "invisível" ...

    Mas como bom bocudo, eu nunca me furtei a defender ideias e posições, percebo que o povo me olha as vezes sem entender. Mas acho que em uma situação como a sua e a do Mr. J a gente quer é mais contar para todo mundo! ehehe

    Fico feliz que as histórias estejam sendo positivas.

    Abração

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  9. Uma situação maravilhosa foi em férias com um colega: nos apresentamos como solteiro (eu) e divorciado (ele), no hotel e, como a reserva foi com cama de casal e ele gentleman disse que levaria nossas malas, o recepcionista disse se desejarem camisinha, na hora ele respondeu já temos intimidades! Ai me pareceu diversidade plena: bi e homo, cisgeneros e gerações diferentes: eu 47 e ele 30 anos!

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