"- Maria de Fátima, quando você trouxer um copo de água para seu convidado não traga na bandeja, você é a dona da casa, quem usa bandeja é garçon"
A frase, dita por Odete Roitman (personagem antológica da atriz Beatriz Segall) para a social climber Maria de Fátima, ilustra bem um dos exemplos de etiqueta, de comportamentos, que não "pega bem" para os ricos.
Eu assisti esta cena ontem... o Mr. Jay é fã confesso de clássicos pop, e dentre as coisas que ele curte estão as novelas antigas, recentemente ele comprou o DVD da Novela VALE TUDO onde o grande mistério "quem matou Odete Roitman" ocupou o imaginário popular por meses!
Mas o mais engraçado foi ele me dizer para prestar atenção na Odete, para deixar de fazer "coisa de pobre"! O que me fez rir muito... pois ele tem razão, eu realmente faço um monte de "coisas de pobre"...
- Trazer para casa os saches e guardanapos que sobram quando almoça no fast food...
- Guardar alguns potes de embalagens (de coalhada seca por exemplo), ou sorvete, para reaproveitar para congelar coisas na geladeira...
- Usar o verso de folhas de papel, inclusive de malas diretas que chegam em casa...
- Gostar de canetas de brinde - a gente sempre pode precisar não é?
- e algumas outras que não me lembro agora...
Bem...bem.... posso até admitir que algumas destas práticas podem não ser requintadas... mas acho que meu grande gancho para estas atitudes é o desperdício e o "valor do dinheiro"... Apesar de meus avós terem sido lavradores com muito pouca instrução formal, vindos da Italia e da Espanha na primeira década do Séc. XX, eu tive uma infância confortável, pude brincar, estudar, ver televisão á vontade... meu avô ralou bastante e meu pai também, para que isso acontecesse... Mas sempre fui treinado para dar valor ao que tinha, a saborear as conquistas, a poupar para momentos dificieis e a não desperdiçar.
Na mente dos avós os sacrificios das duas guerras mundiais, das revoluções internas, sempre estiveram presentes, o meu avô sempre manteve na casa dele uma despensa de "Gúééérra" - ele nunca entendeu que em português não se encompridava a pronuncia da vogal antes da doppia. A despensa era um armário na casa - ou até mesmo um pequeno quarto nas casas maiores que teve - onde ele sempre tinha um estoque de "coisas que podiam faltar numa guerra", tais como dezenas de latas de massa de tomate, garrafões de água, fardos de papel higiênico, e outros enlatados e conservas... apesar de só morarem ele e minha avó ele fazia compras no Makro para sua despensa de "guéééérra".

Mesmo minha mãe tinha sua "despensa de guerra" quando eramos crianças, a qual ela sempre recorria quando faltava algo na hora que estava cozinhando...
Eu não tenho memória de guerra, nem de revoluções onde o abastecimento foi seriamente prejudicado, mas tenho memória da inflação onde as coisa perdiam valor muito rápido... tenho memória da reserva de mercado, onde os produtos de qualidade e importados eram quase inacessíveis... talvez este conjunto de fatores, e minha consciência ecológica, em especial no que se refere a desperdício de papel por exemplo, é que me fazem ter algumas "atitudes de pobre"... mesmo me divertindo com as brincadeiras do Mr. Jay eu pensei, pensei e não vi nada demais em continuar a fazer alfumas destas coisas, que podem não ser "de gente rica", mas que estão bem de acordo com o que acredito e fui treinado!
Aliás, eu mesmo já "acusei" minha mãe de ter estas atitudes "de pobre", quando por exemplo vai fazer compras num supermercado muito mais longe da casa dela só porque é "mais barato que o Pão de Açucar" e depois, com mais de 70 anos, tem que se matar para descarregar as compras do carro, ao invés de mandar entregar como eu faço...
E você? Tem "atitudes de pobre"? O que pensa disto?
E para ilustrar, algumas frases da "Odete Roitman" que achei na net...
- “Eu gosto do Brasil. Acho lindo, uma beleza. Mas de longe, no cartão postal. Essa terra aqui não tem jeito. Esse povo daqui não vai pra frente, é preguiçoso. Só se fala em crise e ninguém trabalha?”
- “Você acha que eu vou pegá-los no aeroporto? Eu acho a coisa mais jeca dar plantão em aeroporto. Eles até colocaram vidro para as pessoas não verem quem está chegando, mas mesmo assim as pessoas colocam o nariz no vidro, penduram criancinha pra dar 'tchau'. Eu vou mandar o chofer.”
- “Chinelo, chinelo... Que palavra horrível! Português é uma língua tão chinfrim.”
- “E eu que pensei que alguma coisa tinha mudado nesse país. Foi só botar o pé aqui que você começa a sentir esse calor horroroso, uma gente horrível no caminho, gente feia esperando ônibus caquéticos no ponto.”
- “O Brasil é um país de jecas. Ninguém aqui sabe usar talher de peixe.”
- “Você pode imaginar uma menina inteligente e sensível como a Maria de Fátima [Glória Pires] morando em uma cidadezinha de interior ao lado da mãe? No dia do aniversário ganhando bolinho com velhinhas, olhinho de sogra, cocadinha, docinho de leite, salgadinho enfeitado com florzinha de tomate?”