18 de junho de 2010

"Meu pai é gay" - Histórias de quem vive essa realidade

Preconceito pode ser aprendido em casa - e essa lição elas nunca tiveram. Garotas de famílias assumidamente homossexuais contam como é conviver com papai e papai (ou mamãe e mamãe)

texto de  Sandra Soares e Thiago Bronzatto, para a revista Gloss


Durante toda a infância, a americana Abigail Garner sentia o coração acelerar toda vez que alguém mencionava a palavra "bicha" na sala de aula. De uma primeira geração de crianças criadas em famílias alternativas assumidas, ela cresceu mostrando o boletim escolar e negociando o horário de voltar para casa com uma mãe e dois pais - seu pai biológico decidiu viver com outro homem quando ela tinha 5 anos. Hoje, aos 33, é uma das mais conhecidas defensoras da causa gay no país, apesar de ser heterossexual. Desde 1999 escreve textos e dá palestras que ajudam filhos de homossexuais americanos - segundo estimativas, pelo menos oito milhões de crianças e adolescentes. Seu blog e seu livro, Families like Mine: Children of Gay Parents Tell It like It Is (numa tradução livre, Famílias como a Minha: Filhos de Pais Gays Contam como É), são referências no assunto.

Nos Estados Unidos, é comum que famílias como a dela assumam publicamente sua condição. Por lá, já existem até revistas voltadas para gays com filhos. A que ficou mais conhecida é a And Baby, lançada em 2001. Chegou a ter tiragem de cem mil cópias e fez sucesso com dicas para, por exemplo, papai e papai se saírem bem ao acompanharem a filha na compra de bonecas. O Brasil tem cerca de seis milhões de homossexuais e sedia a segunda maior Parada do Orgulho Gay do planeta. Mas só agora começa a lidar abertamente com o tema. "As famílias homoparentais são sempre existiram, mas eram invisíveis por causa do preconceito", afirma o sociólogo Alípio Sousa Filho, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e editor da Bagoas, publicação semestral de estudos sobre homossexualidade. "Dos anos 80 para cá, há avanços na aceitação da diversidade e eles estão ganhando mais visibilidade."



Filhos de gays não precisam colecionar, necessariamente, relatos traumáticos como os de Abigail. Filha adotiva do apresentador Leão Lobo - gay assumidíssimo -, Ana Beatriz Mota Lobo, 16 anos (foto acima), garante que raramente sofreu preconceito por causa do pai. "Meu namorado, por exemplo, se espantou mais por saber que o sogro era o cara das fofocas da TV do que com a opção sexual dele", diverte-se ela. Ana fala de sua criação com uma normalidade absoluta e não tem grandes dramas para contar. O problema começa da porta para fora. Mesmo completamente amparada, ela vive em uma família sem os mesmos direitos que as outras. Se o seu pai quiser se casar com o namorado, por exemplo, não pode. Já se vão doze anos desde a entrada, no Congresso Nacional, da proposta de legalização da parceria civil entre pessoas do mesmo sexo. E o projeto nunca foi votado. Mesmo sem amparo legal, as famílias formadas por casais gays vêm conseguindo vitórias na Justiça. Ao divulgar em 2002 a resposta ao pedido de custódia do filho biológico de Cássia Eller, feito pela viúva da cantora, o juiz que cuidou do caso escreveu: "A questão da homossexualidade não tem importância. O essencial foi assegurar o interesse pessoal de Chicão". Pela decisão, o garoto, hoje com 15 anos, permaneceu com Maria Eugênia Vieira Martins, companheira de Cássia nos últimos quinze anos de sua vida. A decisão abriu caminhos para casos semelhantes.

Tudo o que se relaciona à sexualidade, algo tão íntimo, se confronta com o mundo exterior. Crenças religiosas, maneiras de ver a vida, o lugar onde se vive - as variáveis são imensas. No caso dos filhos de gays, essa situação tende a ser exponencialmente maior. Bruna Peixe dos Santos, 16 anos, sofreu muito a perda de um namorado e de algumas amigas que se afastaram quando foram apresentados a seu "pãe". Bruna tem uma mãe biológica que nasceu mulher, mas optou pela identidade masculina. É um transexual - e adotou o nome de Alexandre Santos, o Xande, atual secretário da Associação da Parada do Orgulho Gay. "Até os 5 anos minha filha ouvia eu me apresentar como lésbica", explica Xande. "Quando compreendi que na verdade eu tinha identidade oposta ao corpo com que vim ao mundo, mudei meu discurso e meu nome." Entender todas essas mudanças foi o mais difícil para Bruna. "Era tudo meio confuso. Mas nunca tive vergonha do meu 'pãe'. Quando eu era mais nova, ameaçava bater em quem falava mal dele."



Como se vê, quando se chega perto das famílias com pais gays, é possível perceber que quase sempre o problema maior vem de fora - mesmo quando a relação dos pais com a sexualidade parece confusa. Somente há pouco mais de quinze anos o homossexualismo foi retirado da Classificação Internacional de Doenças publicada pela Organização Mundial de Saúde. Há mais tempo do que isso, no entanto, as primeiras gerações de filhos de gays assumidos mostram que família é família. E digam o que quiserem lá fora

"Durante muito tempo, eu me recusei a responder à pergunta: 'Você é heterossexual?' Como outros jovens de famílias como a minha, ser confrontada com essa questão me fazia sentir como que colocando meu pai sob julgamento. Ser filho de homossexuais não significa que uma criança tenha mais ou menos chances de ser gay, mas essa é uma das discussões que mais vêm à tona quando se fala sobre famílias alternativas. Tive a sorte de saber que meu pai era gay antes de conhecer a homofobia. O preconceito é algo que se aprende e, aos 5 anos, eu não havia aprendido."

Depoimento de Abigail Garner

3 comentários:

  1. Anônimo4:38 PM

    Adorei a matéria. Gosto muito de saber como os filhos de homossexuais estão crescendo. Como vemos o problema ainda está nas pessoas do lado de fora...mas aos poucos tem se obtido muitos progressos!

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  2. MARCOS7:43 PM

    NOS DIAS DE HOJE E MUITO COMUM O ASSUNTOS E CRITICAS SOBRE HOSESUALISMO.MAIS DEUS E JUSTO NAO SOMOS ASSIM PORQUE QUREMOS , NEM POR OPISAO, MAIS ASSIM NOS SENTIMOS FELIZES... DEPOEMENTO DE UM GAROTO DE 19 ANOS MAIS QUE JA SUFREU DEMAIS,,,, E SMENTE SOU LIBERTO...........MEU NOME E MARCOS SANTANA DO COUTO 19 E HOJE SOU FELIS. OBRIGADO

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  3. Anônimo8:28 PM

    depois de um anos eu denovo ,,,, to em casa agora pensando oque eu realmente quero ,,, nao sei mais oque faser minha mea ve meu sofrimento mais nao sabe oque relmente esta acontesendo comigo ...tenho uma vida normal mais.. sou gay gosto de pessoas do mesmo sexo,, so que nao demontro,,,, o sofro por isto.... nao sei mais oque faser me ajudem este e meu imail jacarecontabil_23@hotmail.com

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