12 de março de 2015

Blame on me!

Resultado de imagem para o mais importante não é resolver um problema, é achar um culpadoEu trabalhei por alguns anos numa empresa cujo lema de diretoria parecia ser : " O mais importante não é resolver o problema! É achar um culpado!". Ou seja, quando havia alguma situação não programada o esforço primeiro era em descobrir quem fez "algo errado" que "deixou" que aquilo acontecesse...e  isso era muito difícil para mim, tanto que acabei saindo...

Com relação á homossexualidade existem muitas situações em que o rapaz (ou a moça) que se percebe "diferente" se sinta culpado, culpado de não controlar suas emoções e sensações, culpado por ser a vergonha da família, culpado de envergonhar a família e decepcionar os pais...

Mas também é muito comum, que os pais, quando descobrem que os filhos ou filhas são homossexuais,  sintam que fizeram "algo errado" ou que "deviam ter feito algo" para que isto não acontecesse, isto parece ser particularmente grave para as mães, que sempre se sentem culpadas, e são culpadas pelos pais, de terem feito algo errado - você mimou muito este menino! 
A Professora e Militante Edith Modesto fala disto com muita propriedade, e seu livro MÃE SEMPRE SABE mostra todas as fases pelas quais as mães passam (veja AQUI e AQUI). E ela consegue explicar porque isto acontece.

Como pai eu entendo bem este sentimento de "achar que podia ter feito algo melhor", eu experimentei esta sensação em diversas situações, quando eu resolvi que minha filha só faria tratamento homeopático eu sempre achava que podia ter feito melhor quando ela tinha crises de tosse durante a noite e eu não podia usar cânfora ou xarope; quando coloquei ela numa escola de período integral eu achava que poderia ser melhor se ela não ficasse o dia todo a escola; quando eu não insisti para ela praticar a sério um esporte de alto desempenho eu também pensava que ela poderia se beneficiar muito da disciplina exigida pelo esporte de ponta.... ou seja, toda ação traz em si um contraditório, uma outra possibilidade mesmo que fosse de inação!
No papel de pai temos que lidar com isto, decidir pelo bem estar e pelo futuro de alguém que ainda não pode tomar suas próprias decisões! Isto amedronta um pouco não?
E você é sempre cobrado, pela avó, pelos parentes, pelo namorado, pelos amigos, pela professora... que vc não devia ter feito deste jeito, deveria ter feito deste outro jeito, porque opinião é que nem _ ´_ , cada um tem o seu!

Mas há algumas semanas eu fui cobrado... pela filha! 
CUMA? Como é que é?
Ela ainda não tinha sido aprovada na USP e achava que não ia passar, e conversávamos sobre a indisciplina dela para estudar, como ela tem dificuldade de organizar o tempo e perseguir metas de estudo - sendo sempre muito dispersa- quando ela virou para mim e disse "você deveria ter me cobrado mais e sido mais exigente! eu jamais vou colocar meu filho no colégio que eu estudei, você deveria ter me colocado em outro colégio mais puxado"

Como é que é? Eu fiz tudo errado?

Mesmo eu achando o argumento dela estapafúrdio - pois ela estava querendo achar um culpado por ela ser indisciplinada - eu confesso que dei um pouco de razão para ela, eu pensei se eu podia ter feito "algo melhor". 
Eu realmente assumi a postura de não cobrar muito e deixar ela experimentar as consequências de seus atos - não estudar muito ao longo do ano e ter que se esfolar para passar nos últimos dois bimestres - se bem que ela sempre passou direto(com notas ridículas na minha opinião) e nunca ficou sequer de recuperação. Não ficar neurótico com as notas (com eu era comigo mesmo quando jovem) e deixar ela assumir as consequências foram decisões minhas, que ela estava me dizendo, na lata, que eu podia 'ter feito melhor".

Eu confesso que o meu planejamento foi sempre para ERRAR MENOS e nunca de acertar 100%!

Do mesmo jeito que as mães, sem necessariamente serem "yiddish mom", tem um jeito especial (e eventualmente maquiavélico) de fazer com que seus filhos se sintam culpados, por elas mesmas sem sentirem erradas, os filhos também conseguem fazer com que os pais se sintam culpados, por serem desta ou daquela forma! Eu achei isto muito divertido! fiquei rindo  com a estória e contei para muita gente!
Wood Allen já contou esta estória muitas vezes,
 clique no link da yiddish mom que coloquei acima 
e veja um texto muito engraçado de Eva Lazar!


Blame on me sweetheart! Eu fiz o que pude! O meu melhor! E continuo fazendo! Beijinho no  ombro!

Filhos não vem com manual, filhos não vem com gráficos e nem tabelas, filhos não são notas promissórias garantidas para descontar, filhos são safaris sem mapas, são aventuras em cavernas escuras! Se eu tivesse 20 filhos mesmo assim ainda saberia pouco sobre estes seres!

Mas é uma aventura incrível, eu recomendo! É delicioso poder se perder sem manual, eu aprendi muito mais sobre ser filho - e que porre de filho eu sou - quando me tornei pai! 

E me diga você... de quem é a culpa por você ser como é?


5 comentários:

  1. Anônimo4:13 PM

    Jane Austen, Charlotte Brontë, Gustave Flaubert, Anatole France, Leon Tolstoi, Casimiro de Abreu, Machado de Assis, Pearl Buck......todos eles culpados!!!!

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  2. Exatamente, o ser humano em geral não vem com manual ou garantias, cada um é cada um, cada um tem sua essência.
    Abraços!

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  3. Como adolescente, culpei pai, mãe, deus, etc, por cada falha e confusão que eu cometia... Mas logo percebi que na realidade o que importava era o que eu fazia com o que me era apresentado... Cada um dá o que pode dar, inclusive emocionalmente. Aprendi a não cobrar, aprendi a agradecer e me virar da melhor maneira com o que tinha em mãos.

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  4. Por mais que façamos as coisas para acertar a 100% isso nunca acontecerá. A culpa de ser como sou, é minha porque sou "vítima" das minhas escolhas. Quer dizer, acho que não é culpa, é responsabilidade o que é totalmente diferente. Porque a culpa advém da tradição judaica-cristã de que cometemos algo de mal ou algum pecado. Nem tudo o que corre mal tem a culpa. Ninguém nos garante que a outra solução (ou soluções) que poderíamos ter escolhido ao invés fossem melhor.

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  5. Aaaahhh... Como culpar alguém que está aprendendo, né?

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