4 de agosto de 2016

e o TAL não foi

Em diversas ocasiões eu escrevi sobre meu pai, e do nosso relacionamento difícil, nulo. Eu sei que isso não é um "privilégio" meu, muitos amigos já compartilharam os seus problemas e distanciamentos de seus pais. Eu também já entendi, de certa forma, que o fato de eu ser homossexual não é o único cerne da questão, quando conversei com minha mãe...e eu achei que já tinha aprendido a lidar com isso

Mas, no meu casamento, mais uma vez eu cometi o erro de esperar dele uma atitude diferente, uma atitude melhor, uma atitude de pai, e mais uma vez eu cai do cavalo - melhor seria dizer que cai do castelinho de cartas que criei nas nuvens.

Meu pai não foi ao meu casamento...

Eu fiz o protocolo direitinho, entreguei o convite em mãos algumas semanas antes, até disse que ele quizesse levar alguém (uma das piriguetes que babam o ovo dele porque ele tem grana, e que ele chama de amigas)  era só me avisar. Depois, uma semana antes, liguei para perguntar se ele ia e se queria levar alguém, ao que ele respondeu - "não consigo resolver isso agora". Também conversei com minha irmã e pedi que ela falasse com ele, explicasse que o pai do Mr. Jay iria.

Um dia antes do casamento eu fiz um almoço em casa, para a família do Mr. Jay, e minha irmã também veio. Numa determinada hora ela me puxou num canto e me disse que meu pai não iria, que disse que "preferia não ir". E ela tentando melhorar a situação ainda tentou me convencer que "eu nem fazia questão mesmo" e "que ele era de outra época e eu devia entender" e que "seria até melhor assim para não criar nenhum constrangimento".

Na hora eu concordei, e fiz um ar de "melhor assim", mas no fundo eu imaginava ainda que ele apareceria de última hora, para causar um certo frisson e chamar atenção, como é típico de uma personalidade mitômona como a do meu pai. OLHA AI! Eu tenho vontade me dar um tapa na cara por ter tido este pensamento, esperança boba, pois é óbvio que ele não iria... mania de sempre esperar o melhor das pessoas...

Pois ele não foi... é claro!

Confesso uma parte minha achou bom ele não ir, ele é como uma "nuvem negra" sempre que está presente (a não ser que esteja com os amigos que babam o ovo dele). Ele provavelmente ia constranger um monte de gente. Mas tem uma parte minha que dizia que eu merecia, que seria justo para mim ele estar lá, eu queria passar por uma sensação como o novo comercial do Jetta.

Mas obviamente a vida não é um comercial de automóvel, e nem de margarina..
Ele não foi.
Ele não foi e também não deu presente... e olha que eu tinha uma lista de presente "em dinheiro" como é comum hoje em dia... pois esperar um presente pessoal seria "tooooo much".
E o calhorda ainda me passou uma mensagem no dia "desculpe surgiram compromissos não poderei ir"

Os meus sentimentos no dia, e nos dias seguintes, foram mistos. Na hora da festa me senti humilhado  pois muita gente perguntou "seu pai não veio?" E cada vez que me perguntavam eu lembrava do assunto e dava uma resposta diferente. Me senti humilhado por saber que muita gente estava comentando o assunto mesmo sem ter falado comigo. Foi uma fofoquinha que pairou no ar... que bosta!
Me senti indigno pois o covarde nunca teve nenhuma conversa direta comigo, nunca, nunca, aliás sobre nenhuma assunto, nem sobre carreira, nem sobre sexo, nem sobre futebol, nem sobre nada... nem mesmo quando arranjou manobras para tentar me tirar da sociedade da empresa teve coragem de falar diretamente comigo sobre o assunto, mando o advogado entregar um documento para eu assinar... e quando eu ameacei reagir voltou atrás rapidamente...

Como eu avisei o Mr Jay antes da festa que ele não iria,  eu consegui sublimar maravilhosamente os sentimentos no dia.... Mesmo sendo  muito complicado vc se sentir o "cocô da mosca do cavalo assistente do bandido do western italiano nível B".  O sentimento era de ter sido agredido, pois ao fazer isso, ao não me prestigiar, ele estava, diretamente, me agredindo, agredindo Mr, Jay, minha filha, minha mãe... tentando tirar o brilho da minha união, lascar a minha dignidade e me humilhar perante outros - e eu não duvido que ele tenha pensado algo assim...

No segundo dia depois do casamento foi quando eu verdadeiramente "registrei o baque", não tanto pelo fato, que eu já tinha deglutido, mas por não saber o que fazer com aquela "informação".  Passei o dia choroso, e com raiva de deixar um idiota como meu pai turvar toda a felicidade que eu tinha passado e ainda sentia naquele momento... eu me comiserava por me sentir assim, por me deixar atingir...mas sem saber o que fazer.
Meu marido foi maravilhoso, esteve ao meu lado e me ajudou como pode, deixando que eu falasse e chorasse...
Mas eu acabei ligando para meu terapeuta e pedindo um HELP... dois dias antes da minha lua de mel eu me preocupava de não conseguir elaborar o que fazer com tudo que estava sentindo e estragar minha viagem.. Conversamos bastante pois ele me conhece há muitos anos... e também estava lá no casamento, e também percebeu a ausência do infeliz...
A principio  parece bem simples olhando de fora, ele é um bosta que não me ama, nunca amou, eu tenho que parar de me enganar e aceitar a realidade, parar de achar que as coisas são de um jeito que elas não são, tratar ele com a distancia que ele merece, porém sem ser idiota de abrir mão do que é meu de direito, tratar ele como se trata um chefe, um governador, um prefeito, alguém que vc sabe que tem autoridade mas que não respeita.. e pronto...

O que é bem mais fácil falar do que fazer!

E ai meus amigos, tem um jeito mais fácil de lidar com esta situação?

32 comentários:

  1. Wagner9:34 PM

    Super difícil, mas o meu mantra é "não dar poder aos outros sobre mim". Desculpe-me, mas o "cocô da mosca do cavalo assistente do bandido do western italiano nível B" foi um papel que ele assumiu com essa atitude. Pois ele pode não aceitar a situação, mas negá-la só prolonga a necessidade de aprendê-la. E na minha parca experiência, posso dizer que a Vida não deixa barato.

    Acione o foda-se terapêutico. É minha sugestão, com todo respeito moral...

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    1. Obrigado Wagner... o botão FODA-SE foi acionado... porque respeito não existe mais mesmo! obrigado

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  2. Paternidade qualquer um pode ter, agora paternagem não são todos que a praticam e a primeira não e condicionante da segunda. Gostaria de lhe dizer algo positivo, mas vivo situação semelhante. Nos últimos meses que voltei a trabalhar a questão. A melhor solução até o momento foi tornar-me consciente do tipo de relação que temos, (eu prefiro dizer "arelação"), não ignorar nenhum sentimento que provém dessa "arelação" e aceitar as coisas como são. É frio constatar isso, mas há coisas que infelizmente não podem ser mudadas e as não terei.

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    1. Gustavo, vejo que na sua Arelação com seu pai vc entende perfeitamente o que estou sentindo... mas a constatação fria é o caminho mesmo! obrigado abraço!

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  3. Anônimo3:28 AM

    Assista ao filme: "Minha Querida Dama" de 2014 com Kevin Klein e Maggie Smith....
    A resposta está lá com muito mais propriedade dada do que o seu "terapeuta".........
    bjs

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    1. Haha! Jose Soares... que mocinho implicante! Eu vou tentar assitir este filme... se bem que o Edu disse que o filme não é "tudo isso"! rsrsr... beijao!

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    2. Anônimo8:46 PM

      Você sabe muito bem o PORQUE dessa "implicância".....Ela é bem fundamentada...rsrs
      Ah....Esquece o Edu.... O filme é uma obra prima e não tem nada de moralista!

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    3. Não foi "o Edu" que disse, foi a primeira crítica que o Edu achou. E o ponto de interrogação, ao final do comentário do Edu, diz claramente que ele não sabe se a crítica é válida ou não.

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  4. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/06/1644562-inicio-agradavel-de-minha-querida-dama-desaba-em-final-frouxo-e-muito-moralista.shtml ?

    Eu prefiro a estricnina ou algo que não deixe vestígios. Assista CSI pra aprender o que evitar.

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    1. Agora fiquei na duvida se assisto ou não o filme! enquanto isso estou procurando alguem para fazer um acordo do tipo "jogue a mamãe do trem", conhece alguém? abraços!

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    2. Anônimo8:47 PM

      Edu....você viu o filme ou só deu um google??
      Moralista é a cabeça tacanha desse crítico, aliás como todos os críticos de cinema ou arte.

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  5. Tem um ditado me Portugal que diz: "Só faz falta quem está"

    Se seu pai não quis estar presente, é um problema dele. Segue a sua vida normal :)

    Tens outras pessoas te querendo tão bem :)

    Andar pra frente

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    1. Obrigado Francisco! Só faz falta quem existe, excelente ditado, e realmente ele nao tem feito falta faz tempo! abraços

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  6. Apesar dos sentimentos que se misturaram na tua cabeça e coração, quem perdeu foi ele...sinto muito.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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    1. obrigado Jair, as coisas se misturam mesmo.. e posso garantir que ele continuará perdendo!

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  7. Minha Abuela diria que quem devia estar lá, estava! Simples assim, infelizmente em muitas situações as pessoas fazem escolhas que nos deixam bastante chateados. Além de toda a felicidade envolvida pelo dia, era um passo importante (e cheio de significados) para você, nada mais natural querer a presença daqueles que supostamente deveriam nos apoiar na vida.

    "Tretas" com pai e mãe é algo que eu acredito ser muito doido, primeiro pelo significado que essas figuras carregam. Mas como alguém mencionou mais acima, não dê mais poder do que as pessoas realmente possuem.

    Infelizmente, teu pai desperdiçou a oportunidade e o convite de fazer parte da sua vida, mas sua parte você fez então a escolha foi dele! Chegaram um dia em que ele provavelmente será confrontado, pela própria vida, sobre essas escolhas. Que não se esqueça de tudo o que fez.

    No mais, procure se lembrar das pessoas que lá estiveram e que torceram e vibraram pela tua felicidade naquele dia, tenho certeza que encontrará "pais de coração" que fizeram questão de lá estar... Não resolve, mas ajuda a amenizar essa dor que com certeza fica durante muito tempo.

    Abração e felicidades.

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    1. Lindo TimMan, obrigado, eu realmente me surpreendi com muitos amigos e amigas que deram um apoio e um carinho muito menos do que o esperado, e quem não estava la não fez falta! foi só pelo simblismo... a minha unica tia viva, que foi casada com um irmao de meu pai, e que estava no casamento me disse, "todos os homens da familia dele são uns babacas, ainda bem que vc é diferente"!

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  8. Seu relato é triste. Pelo visto, esta é uma questão que ainda vai incomodá-lo muito, e não tem como ser diferente. mas é pra frente que a vida anda, e apesar dos tropeços, você vai lidar com isso de forma cada vez melhor.

    Ah, só pra reforçar, não abra mão de seus direitos NUNCA!

    Fique bem e curta bastante o casamento.

    Abs.

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    1. obrigado Marco, acho que desta vez foi mais definitiva... acho que tudo isso vai me incomodar cada vez menos! vou trabalhar para isso!

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  9. Quem perde é ele.
    Entendo a sua dor, mas vc tem pessoas ao seu lado que te amam, o que é suficiente para minimizam a dor.
    Será que ele pode dizer o mesmo?! Pior que tem (você)...
    Nevermind, be happy! :)

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    1. Obrigado I.ssan! Eu tb acho que ele perde, mas é mesmo hora de eu pensar em mim e não ficar tentando aceitar ele...Você não tem blog né?

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  10. Anônimo9:28 PM

    Eu gostaria de não ser capaz de entender esse sentimento mas infelizmente eu entendo perfeitamente. Sou casado (não oficialmente) há 8 anos e já passei por situações como meu pai ir no aniversário do meu cunhado na vespera do meu aniversário e não ir no meu. Durante muito tempo isso doeu muito, muitas caixinhas de Klinex foram gastas num divã de psicanalista até que eu cheguei a conclusão de que eu não posso exigir que ele me aceite e ele não pode exigir que eu não sinta isso. Hoje em dia a nossa relação é 99,99% boa. O 0,01% que faltam é se esse assunto fosse pelo menos conversado por nós. Hoje eu tento não lutar mais contra essa situação, eu aceitei como se fosse uma agua barrenta que se eu mexer vai ficar mais turva. Acho que deixando sem mexer, o barro vai se sedimentar e vai ficar pelo menos uma agua menos barrenta. Mas eu sei também que cada um lida com as emoções de maneira diferente. Abraços e muito obrigado pelos maravilhosos textos que vc compartilha conosco. Robson/SJCampos

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    1. Robson, obrigado por suas palavras! sei que muita gente passa por situações parecidas... eu vou ter que aprender a lidar com isso... gostei de sua analogia com agua barrenta... a questão é que, dependendo da situação e da sua sede, vc aceita tomar uma agua mesmo que ela esteja turva não é?

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  11. Que situação chata. Mas no fundo todos tempos alguma coisa da família para contar...
    Espero que tudo melhore.
    Infelizmente não tenho dicas sem ideias de como melhorar a situação.

    abraço profundo.

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    1. Sara, a situação em si não vai melhorar, não tenho mais esperança disso, o que tem que melhorar é a forma como encaro isso tudo! obrigado pelo comnetario, abraços e beijos

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  12. Tenso muito tenso.
    Saudades do meu. Sempre nos demos muito bem principalmente no campo de minha sexualidade.

    Voltando de SP e colocando em dia a leitura dos blogues amigos.

    Beijão

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    1. Bratz, espero que vc veja como é sortudo de ter tido uma boa relação com seu pai, eu infelizmente não terei nada para sentir saudades do meu, só do mau que ele me causou...

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  13. Anônimo3:55 PM

    Olá! Acompanho o seu blog há cerca de um ano, mais ou menos, mas nunca comentei nada.

    Gosto muito da forma como escreve e sobre o quê escreve. Vibrei com a notícia do casamento... À propósito, parabéns!

    Tenho 21 anos, sou homossexual, e moro no interior de SP. Não tenho irmãos, e nunca conversei com meus pais à respeito disso. Certamente eles sabem, ou desconfiam.

    Na última semana o meu pai ouviu uma conversa minha com um amigo, quando eu dizia que me decepcionei com uma pessoa. Com certeza ele sacou, qualquer um sacaria!

    Ele ficou bastante nervoso e chateado, mas mesmo assim não me perguntou nada. Apenas me disse as seguintes palavras: 'Filho, você nunca me trouxe problemas, não é agora que vai trazer.'
    Eu fiquei em silêncio, e depois me deu uma raiva por não ter colocado tudo na mesa naquele dia mesmo. Fui fraco.

    Enfim, passaram-se uns dias, e ele foi melhorando, vejo que está se esforçando para voltar a ter uma relação "normal" comigo. Estou fazendo o mesmo.

    A minha família é toda evangélica, inclusive eu. Aprendi a não dar ouvidos aos discursos que matam, sempre acreditando que Deus me ama do jeito que sou.

    Com relação ao seu texto, senti até um aperto com os relatos... Certa vez ouvi do meu pai que preferia ter um filho morto, a ter um filho gay. Ele sabe que sou gay.

    Enfim, vamos ver no que tudo isso vai dar.

    Parabéns pelo blog! Um beijo!

    Carlos.

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    1. Carlos obrigado por seu comentário e por dividir sua historia conosco! Imagino quanto sofrimento, mêdo e angustia vc vivencia na sua casa! Se eu pudesse te sugerir algo, alguem que possa te ajudar, eu diria para vc falar com a Edith Modesto, do GPH, ela tem ajudado muitas familias a se reaproximarem e aceitarem seus filhos e filhas lgbtt, o email dela é elmodesto@uol.com.br
      um beijo para vc! apareça por aqui!

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  14. Não há jeito para se lidar com esse tipo de situações. As relações familiares são complicadas, e nem todos nós temos a sorte de ter uma que nos faça sorrir e nos dê o apois e carinho que por vezes necessitamos.

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    1. Isso é bem verdade... muitas vezes é uma questão de "sorte" não precisamos ficar aflitos e achando que fizemos algo errado ou que podemos mudar algo...

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