3 de junho de 2016

O livro necessário! At last!

Ufa! Esta semana entregamos os originais do livro para a Editora Summus! Detentora do selo Edições GLS

Eu não tinha contado que estava escrevendo um livro?  Pois é... Eu estava, desde abril do ano passado, junto com  a Psicóloga Profa. Dra. Vera Moris a escrever um livro para contar a história de um grupo de homens que foram casados, tiveram filhos, e em algum momento se "descobriram gays".

Tudo começou em 2007 quando conheci a Vera. Ela estava desenvolvendo seu doutorado na PUC/SP sobre a Paternidade Homossexual e me encontrou através deste blog... Ela me entrevistou, especialmente para conversarmos sobre a questão da revelação para os filhos - posto que meu perfil é um pouco diferente do deles, pois nunca tive esposa - e acabamos nos aproximando.
A partir do trabalho na tese ela acabou montando o Grupo Homopater, pois percebeu o quanto era importante estes homens poderem encontrar outros em situações semelhantes, dividir sentimentos, experiências, formarem uma REDE de apoio, que como ela sempre diz, é fundamental para os que saem do armário mais tardiamente, depois de uma vida predominantemente heterossexual.
Para você ter uma ideia, da eficiência e validade deste projeto, tem homens que vem do interior de São Paulo, de outros estados, e até de fora do Brasil (brasileiros que vivem na Alemanha (2) e EUA (3) ) só para participar do Grupo.

Eu tenho que confessar que eu era um ignorante com relação a esta realidade, na estreita acepção da palavra. Eu achava que sabia um monte de coisas sobre estes homens, que depois aprendi eram "conhecimentos" fruto do meu preconceito, da minha homofobia internalizada, da minha soberba e de alguns outros defeitos que cultivo na minha horta emocional - horta hidropônica e sem agrotóxicos naturalmente.
Para mim eles eram caras que sabiam que eram gays - como eu sempre soube - e que, ou por medo, por conveniência ou por vergonha, resolveram ficar no armário e se casar com uma mulher, mentirosos que acabaram tendo filhos com estas mulheres que enganaram e que, como já se podia prever, em determinado da vida, ouviram o "som melodioso de uma pica" e viram que precisavam sair do armário, assumir-se gays... ferrando a vida de esposa (sempre apaixonadas por aquele marido tão especial que gostava de cuidar da casa, gostava de acompanhar ela para comprar roupas e que cuidava tão bem das crianças) e dos filhos. Eu simplesmente ignorava a Escala Kinsey, 

Com o tempo, tendo a oportunidade de participar das reuniões do Grupo, podendo conhecer estes homens, eu comecei a entender melhor a vida deles, o quanto sofreram por não entenderem ou não admitirem ser possível serem quem eram quando crianças e jovens, o caminho em busca da heteronormalidade, a esperança de "cura" muitas vezes depositadas na igreja ou num casamento e na  família "margarina" que se empenham para construir. Eu presenciei, ao vivo e em cores dramáticas, alguns destes amigos em seus processos de "outing", as revelações que tiveram que fazer para os filhos e a redenção que parecem encontrar no final. A aceitação de si mesmos!
Eu vi muito sofrimento, eu vi muito desespero, e vi muitos homens se desconstruindo e se reconstruindo.

Foi durante nesse processo, de deixar de ser ignorante, que eu percebi o quanto um livro que falasse sobre estes homens poderia ser rico, e o quanto poderia ajudar outros homens com histórias parecidas, homens que estão isolados, sozinhos, pelo Brasil afora.
Percebi que também poderia ajudar outros "ignorantes" a entender melhor este grupo tão específico de homens, pais e homossexuais. Para mim ele se tornou um livro "necessário", que tinha que ser escrito!
Fui então conversar com a Vera, para ver o que poderia ser feito, perguntar se ela também achava este um livro "necessário" e me surpreendi com ela me dizendo que "já tinha começado o livro várias vezes nos últimos anos" mas que não conseguia levar adiante o projeto! Pronto! Nossa dupla estava formada!

A ideia do livro foi reunir depoimentos destes homens e tentar traçar um perfil deles, mostrar o caminho que seguiram, os tropeços, mostrar historias que foram bem sucedidas e as que ainda estão no caminho. Mais de 30 homens se propuseram a colaborar com seus depoimentos, alguns escreveram poucas páginas, alguns fizeram balanços completos de suas vidas, escrevendo mais de 20 páginas. Tivemos então que ler, editar, escolher, encurtar e definir perfis.
Por vicio profissional a Vera escreve em "psicologues", onde as pessoas não falam, elas "inferem" (risos sarcásticos), já eu defendia um texto mais coloquial, mais próximo das pessoas, pois não escreveríamos um livro para psicólogos, mas para pessoas que quisessem entender mais esta questão. No final chegamos a um consenso bem interessante, mantivemos a linguagem própria de cada depoimento, e incluímos falas de diversos filhos destes homens, por sugestão da Soraia, nossa publisher. (coisa chique né?)
Acho que o resultado destes meses de trabalho ficou muito interessante.

Não sabemos ainda se o livro será aceito, a Summus (para a qual fomos indicados pelo Klecius Borges que edita seus livros lá) A principio a Soraia aceitou o projeto que apresentamos.
Não sabemos o que será cortado ou editado. Poderíamos ter tentado lançar o projeto de forma independente, através de crowdfunding, mas achamos que usar uma editora poderia atingir um publico maior, ainda mais uma que tem um selo específico voltado ao mundo LGBTT.
Não sabemos quando será lançado, a ideia inicial da Soraia é que seja lançado na semana da diversidade de 2017. Mas, com a crise, o mercado editorial não tem lançado muita coisa. Só sabemos que não vamos ficar ricos com o livro!

Mas o que não sabemos não nos aflige, queremos que seja tudo bem feito, então a pressa não é o principal critério.

Mas e você? O que pensa sobre estes homens gays que se casam com mulheres e tem filhos? Eles foram sacanas e covardes?



E.T.  A tese da Vera se chamou:  
PRECISO TE CONTAR? - paternidade homoafetiva e a revelação para os filhos 
e você pode ler ela na integra AQUI, lá eu sou o Reynaldo...

21 comentários:

  1. Que coisa mais interessante meu caro. Super curioso para poder acesso a este projeto literário de vocês. Parabéns e, com certeza, sucesso absoluto.

    Como poder julgar comportamentos ou algo que nunca vivenciei? Difícil. Não devo! Claro!

    Mas claro também é que sou humano e cheio de defeitos [felizmente de virtudes também!]. Portanto tenho que ser sincero comigo mesmo. Nunca entendi e também nunca aceitei de forma simples o lance de se fugir desta realidade difícil que é a aceitação de nossa homossexualidade através de enganosos casamentos com sexo oposto e ainda mais quando colocam filhos no meio. Acho isto de uma covardia ímpar. Nem tanto pelos parceiros envolvidos que são adultos e, no mínimo, deveriam ser mais espertos e mais observadores do comportamento de seus pares afetivos mas, fundamentalmente por conta dos filhos, criados em um mundo de mentiras as mais tenebrosas e que, um dia, fatalmente serão desmascaradas. Muito triste isto.

    Por mais difícil que seja, seja tive em mente que, dentro de minha homossexualidade eu teria que ser "MACHO" muito mais "MACHO" que todos os "MACHOS" para viver e resolver comigo mesmo, da melhor maneira possível, este drama que era meu e só meu.

    Felizmente consegui, de forma dura sim, mas consegui.

    No mais querido abraçá-lo e parabenizá-lo por suas escolhas e sua trajetória de vida ...

    Beijão

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    1. Anônimo5:49 PM

      Uau. Sou uma dessas 'parceiras envolvida adulta' e que, no mínimo, deveria ter sido mais 'esperta' e entendido e captado, antes do meu ex-marido (que está em pleno processo de autodescoberta) que ele era gay... Você precisa evoluir nesta sua visão sobre estes homens, estas mulheres e suas famílias. Essa sua 'macheza' soa 'machista'. Não tem empatia. Você parece enxergar quem vive uma história diferente da sua como covarde e mentiroso. Triste engano. Eu não tinha como saber algo que nem o meu parceiro admitia para ele mesmo. E eu não tenho culpa disso. Nem ele. Evolua.

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    2. Sabe BRATZ, no final os que menos sofrem, pelo que percebo, sao os filhos! eles superam tudo muito mais facil do que as esposas! especialmente se o pai é uma pessoa afetivamente ligada a eles...

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  2. |||||
    É um tema transversal a toda a sociedade. A cultura do armário vai continuar a existir enquanto existir preconceito na sociedade...

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    1. com razão Joao Eduardo, o tamanho do armario é proporcional ao preconceito!

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  3. Há de tudo, creio eu. Uns para fugirem a um amor gay de infância que não deu certo (um trauma). Outros porque gostam das duas coisas, outros porque dá jeito a fachada do casamento, outros pelo medo da solidão que um gay tem. Etc etc

    Muitos Parabéns amigo

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    1. Francisco, no final as estorias são mesmo, de verdade, muito parecidas, com um mix de todos estes pontos ... ate mesmo alguns amores gays de juventude...

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  4. Anônimo4:03 PM

    Milhões...(não) ....ZILHÕES de parabéns!
    Um livro é um filho que nasce com uma missão das mais belas: Ajudar a entender o mundo que nos cerca!
    Tenho certeza que será um filho muito querido e lido por todos nós!
    Queremos noite de autógrafo com papito!
    bjs

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    1. Papito dará noite de autografo... se o livro sair ! (kkkkk) mas realmente eu fiquei muito feliz em terminar!

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  5. Anônimo8:43 PM

    Querido, que projeto oportuno para tantos que vivem essa situação e para quem tem preconceito aprender mais um pouco da realidade desses homens. Confesso que tinha opiniões preconceituosas a respeito. Aos poucos, tenho aberto a minha mente para uma visão mais verdadeira das diversas motivações e desafios dos homens que têm ou tiveram casamento hétero e se abrem para uma vivência gay. Quero muito ler o seu livro e indicá-lo a outras pessoas. Avise a estes fiéis seguidores do seu blog assim que a obra for lançada. E não deixe de fazer a divulgação mais ampla que puderem. Abraços e sucesso!

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    1. verdade amigo, a ignorancia é a fonte de todo o preconceito!

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  6. Muito interessante esse seu projeto!

    Quando aos que casam e têm filhos, acredito que nós, como seres humanos, levamos uma vida de mentira, mas por vezes temos que enfrentar os nossos "demónios" e aceitar as coisas tal e qual como elas são. Sacanas não, diria mais que vivem com o receio de serem colocados de lado pela socidade. E não é +/- isso que ela faz?

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    1. com certeza não é uma vida facil, muita mentira envolvida, muita energia desperdiçada, lamentavel...

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  7. Nossa, quero muito ler...

    No fim das contas eu não me casei, mas entendo que talvez pudesse até ser uma dessas pessoas que frequentam o grupo, costumo brincar que se uma pessoal especial para mim tivesse aceitado um sincero pedido de namoro que eu fiz na época, provavelmente teriamos chegado até a igreja.

    Eu não que nenhum de nós consegue de fato mensurar o que cada uma dessas pessoas passou, porque cada um de nós percebe as questões de uma forma diferente. O que aparentemente é algo "simples" de ser resolvido na minha percepção é uma barreira para o outro. Acho que ai entra a "empatia"...

    Admiro muito esse trabalho!

    Grande abraço e que tudo corra bem!

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    1. Bom, meu caro TINMAN, ao que parece a sua amiga que não aceitou seu pedido de namoro, no final das contas, prestou um bom "serviço" a vc não é? abs

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  8. Wagner9:21 PM

    Alguns sacanas, alguns covardes, alguns ignorantes de si mesmos... Mas afinal, tanto faz. Não estou na pele deles pra julgar. Só sei que estou no nível 6... :-D
    Eu lhe desejo muito sucesso!

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    1. Eu sei Wagner... nós no nivel ¨(kkkkk) temos muita dificuldade de entender isso!

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  9. Ansioso pelo lançamento do livro. Espero então que a editora o publique. Algum deles fala sobre sua vida na escola? rs super curioso sobre isto. (ah, se alguém quiser me dar depoimentos sobre suas vidas homo na escola, eu aceito de bom grado).
    Também sou repleto de preconceito sobre quem não afirma sua sexualidade perante a sociedade. Mas sei que fui um privilegiado em ser aceito por todos com os quais convivia na época e por quem tem que me aturar no caminho até hoje.
    Ás vezes e por muitos, não há simplesmente a possibilidade de ser diferente de heterossexual, então cada experiência se torna única e acredito que livre é aquele que em qualquer momento de sua trajetória consegue se libertar das amarras que a sociedade nos cria.
    Abraços e boa sorte com o aceite da casa publicadora.

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    1. sim Ronaldo, muitos deles falam sobre seu aos de infancia e juventude, muitos.... vamos esperar o livro e ai todos poderao conhecer

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  10. Anônimo6:32 PM

    Oi, meu nome é Val. Meu marido decidiu, há oito meses, sair do casamento, de casa, enfim, buscar um caminho que representasse o que ele acredita que é, de fato, o próprio caminho. Este é um processo terrivelmente doloroso para ele, para mim e para o nosso filho. Foram 15 anos juntos. Um filho de sete anos. Um apartamento financiado. Milhares de histórias. Era um casamento, para mim, muito feliz e especial. Ele é um homem maravilho, mas que, com a idade, foi se permitindo – e conseguindo - descobrir outros aspectos de si que até então desconhecia. Ele foi sacana? Foi um covarde? Não sei. Acho que não. Posso opinar apenas sobre a minha história. Desde que este processo começou, senti de tudo. Medo, alívio, choque, ódio, nojo, pena, horror, solidão, esperança, fé, dor. Muita dor. Eu não sabia que existia, dentro de mim, um choro que se assemelha a um uivo. E eu sempre choro assim quando me dou conta do tanto que a minha vida mudou nestes últimos oito meses. Quando sofre a 'morte' do meu parceiro até então... Acho muito bom estudar, discutir, escrever sobre isto. Antes de tudo, ele não era, quando nos casamos, um homem gay. Ele era um homem. Inicialmente, acreditou que ser hétero, hoje, se sabe gay. Talvez (quem sabe?), amanhã, seja outra coisa. O que nós somos mesmo, gente? Eu tenho uma amiga que era hétero até seis meses atrás. Namorou dúzias de homens. Gozou com dúzias de homens. Noivou, inclusive, com dois deles. Agora, está realmente apaixonada – e feliz – com uma mulher. O que essa pessoa é? Uma covarde? Uma sacana? A única coisa que acho difícil de perdoar no meu ex foi a traição. Mas, sinceramente, também teria muita dificuldade de perdoá-lo se ele tivesse se apaixonado por outra mulher. Aquele sentimento de posse que a gente alimenta pelo outro, sabe? Talvez, um dia, evoluamos para além disso tudo. De todos estes rótulos. Talvez, um dia, quando as pessoas amarem outras pessoas, sentirem tesão por outras pessoas, sem importar o gênero, elas consigam perceber que o que importa é o amor. Eu ainda amo o meu ex. Não tenho conseguido falar ou me relacionar com ele. Dói tudo. Mas estou tentando entender, me informar, crescer. Já estou trabalhando com afinco para que o nosso filho aceite e entenda a nova realidade do pai. E estamos, como família, tentando nos adaptar e sobreviver. Só queria sugerir, se possível, que este livro desse – mesmo que pequenininho – um espaço para as ex-parceiras desses homens. Elas também precisam de voz. Precisam saber que também existem neste processo. Beijo e parabéns, de verdade, pelo seu blog!

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  11. Val, obrigado por seu comentario e por dividir um pouco de sua historia conosco, tenho certeza que vai sensibilizar muita gente. Realmente seria muito importante dar voz e vez para as ex esposas destes homens, mas como o foco do trabalho tem sido com os Homens Pais e Homossexuais, este acabou sendo o foco do livro. Na minha opinião as esposas precisariam não só de um FORUM próprio para poderem conversar sobre isso, como tb um livro exclusivo, com suas historias! Quem sabe este não será nosso próximo projeto, se este sair...

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