6 de setembro de 2013

You´ve Got Mail!

O processo pelo qual cada um passa até chegar ao ponto de dizer , ao menos para si mesmo: "-eu sou homossexual" é bastante diferente de pessoa para pessoa.
Cada um vai se percebendo - e se negando - de uma forma diferente, e acho até que isto é diferente de geração para geração.
Meu namorado fala que tem gente que "recebe o email e demora para abrir". Quando ele vê alguém que percebemos que ainda está no armário, ele diz -" este deve estar com a caixa postal cheia de e-mails para abrir!"
Mas o mais interessante é que, depois de um tempo, você consegue ter uma "visão histórica" do que aconteceu com você.
Eu sempre fui gay! Posso afirmar isto hoje,  mas durante muitos anos eu me sentia apenas estranho. Eu ia nos bailinhos, dançava com as meninas, tomava fora, insistia, dançava com a vassoura... nos longínquos anos 70 da minha infância não existia a figura de FICAR, dar uns beijos e depois sumir... o que eu acho bem interessante hoje em dia, mesmo achando que banaliza um pouco o beijo.
Mas eu já era "fresco" (que era um outro sinônimo de "viado" na época). Quando brincava com meu irmão e minha irmã, de casinha, eu era o MORDOMO da casa...quer coisa mais gay que isto? E era muito esmerado na decoração da casinha! RSRSRSRS!
Tive minha namorada de praia, tive algumas paixonites de longe... e naturalmente fui apaixonado pela professora da 1a. série, a  D. Aparecida (naquele século ninguém chamava professora de TIA), uma loirona platinada com um sorriso lindo!
Quando fui ficando adolescente eu perdi o entusiasmo para sair caçando, sair com amigos para "pegar mina" nunca fiz, eu saia de turma, turma grande, para ficar camuflado na turma, sempre conversando mais com amigas que amigos.
Eu sempre gostei da figura masculina. Na casa do meu tio sempre tinha revistas Playboy e ELE ELA no banheiro, e eu me lembro de me interessar muito mais pelas propagandas de cuecas do que pelos posters... Naquela época não tinha email...então eu não ia receber um!
Eu não sou efeminado, embora ache que dou pinta eventualmente, mas na época eu era apenas um garoto muito arrumado - que ia na balada até de gravata de crochê (um must na época), um garoto muito educado, que gostava de conversar com gente mais velha, que curtia musica clássica. Muitos anos eu descobri que eu era um "dândi" (!!!!)
Na faculdade eu era assexuado, ou ainda era muito inocente, ou estava negando com todas as minhas forças, mas eu passei batido em termos de pegadas, de namoros - mesmo tendo sido eleito pelas colegas o "mister bundinha" em dois anos seguidos!
Mas ao mesmo tempo, desde os 17, eu trabalhava, tinha meu dinheirinho, e comprei minha primeira revista gay e depois várias, Jornal Lampião, Sui Generis, Alone, alguns estrangeiras como Mandate, Honcho, cuidadosamente escondidas em casa, dentro de um envelope, dentro de um outro envelope, dentro de uma pasta, dentro duma gaveta com coisas da faculdade, (eu fico lembrando e rindo sozinho aqui)
E comecei a alugar filmes eróticos, primeiro filmes bissex para "disfarçar" na locadora. Mas era um "trampo" para assistir, só um vídeo cassete na casa...rsrsrss...o medo de ser pego era um frisson a mais!
Lembrem que estou falando de uma época pré-internet, nada se falava de homossexualidade na televisão, ou melhor, começaram a falar, mas para falar do "câncer gay", a SIDA, a AIDS. Os guetos, as saunas, os hábitos promíscuos dos gays foram parar na imprensa, para justificar porque aqueles seres "abjetos" de hábitos promíscuos estavam sendo contaminados...
Não tinha chat, grupos, gay era o cabelereiro da sua mãe, ou o Clóvis Bornay no carnaval... Nossa e eu adorava ver as fantasias de carnaval, os desfiles daquelas figuras meio andróginas, cheio de brilho e ousadia. Sim eu com certeza já era gay!
   
dica: MENSAGEM PARA VOCÊ (You´ve Got Mail) é um filme delicioso! Já assistiu? You´ve Got Mail!

5 comentários:

  1. este processo é semelhante a todos nós ... para mim [minha geração] foi sofrido mas não tanto ... demorei um pouco para me resolver por inteiro pq era meio lerdo mesmo ... rs ... mas não posso dier q tive maiores problemas ... acho q a turma de hoje, em q pese toda a liberalidade tem mais dificuldade com o processo ...

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  2. Seu belíssimo relato também e´o "nosso"; como você mesmo disse: "estou falando de uma época pré-internet"...recordei-me de todas as revistas que citou! Sinceramente acho que foram grandes descobertas em todos os sentidos. Estou ansioso pela continuação. Super abraço!

    *PS: O filme é realmente delicioso...

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  3. Poxa que bacana ler teu texto, pior que é assim mesmo não?! Eu tendo a concordar com o Bratz, ao mesmo tempo que há uma maior liberdade nos dias de hoje, ainda há dificuldade.

    Abração!

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  4. Anônimo10:31 PM

    Latinha, coloca dificuldade nisso! Sou casado, amo minha família, ñ vejo um jeito de sair do armário, Papai gay disse uma vez q a hr certa de falar é qdo os filhos são ainda pqs! Qdo ainda estão c a cabecinha livres de preconceito! Meu medo é perder o respeito de tds inclusive dos filhos. O q é pior a família de minha mulher, ela inclusive, são homofóbicos até dbxo d'água! Sairia disso tdo como marginal. Detalhe, acredite quem quem puder, ñ consigo trair minha muulher, com qse 56 anos e trinta de casado só me resta a satisfação no mdo virtual. Me sinto diferente desde mto pequeno.

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  5. Bom dia...obrigado pela visita no meu blog...ótimo post.

    Abração.

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